Visite o Pesquisa Gospel

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

A ANGÚSTIA DAS DÍVIDAS NO SISTEMA CAPITALISTA PARASITÁRIO E NA SOCIEDADE DO ESPETÁCULO

Posted by ALTAIR GERMANO DA SILVA on quinta-feira, agosto 23, 2012 with No comments

Vivemos numa sociedade onde somos literalmente empurrados para as dívidas. Há vários fatores que cooperam para que o indivíduo se veja numa condição financeira desfavorável, devendo, e o pior, sem ter como pagar a dívida.

Alguns pensadores têm contribuído para que haja uma reflexão crítica e uma tomada de consciência sobre o sistema capitalista em que vivemos, e para que se entenda a atual sociedade de consumo. Tais conhecimentos e informações podem em muito nos livrar da angústia das dívidas.

Capitalismo Parasitário

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman, em sua obra Capitalismo Parasitário, descreve o lado oculto das facilidades de crédito oferecido pelas financeiras e bancos. Você já se perguntou por que ganha um salário e o cartão de crédito ou cheque especial lhe oferecem um limite bem maior do que você ganha?

O sistema capitalista é um grande criador de problemas quando o assunto é dívidas. Para Bauman:

Sem meias palavras, o capitalismo é um sistema parasitário. Como todos os parasitas, pode prosperar durante certo período, desde que encontre um organismo ainda não explorado que lhe forneça alimento. Mas não pode fazer isso sem prejudicar o hospedeiro, destruindo assim, cedo ou tarde, as condições de sua prosperidade ou mesmo sua sobrevivência.[1]

Lugares e pessoas são alvos deste predador, que tentará extrair toda riqueza possível, para depois ir em busca de outras vítimas. O capitalismo enriquece uns poucos às custas da pobreza e miséria de muitos, da exploração aberta e descarada.

Com o advento dos cartões de crédito um novo tipo de homem foi forjado: o homem devedor. Em seu lançamento, o cartão de crédito contou com o atrativo e tentador slogam “Não adie a realização do seu desejo”. O cartão de crédito deu ao indivíduo a possibilidade de adquirir um produto, mesmo não ganhando o suficiente para pagar à vista. Com isso, algumas práticas sábias do passado foram abolidas: apertar o cinto, privar-se de certas alegrias, gastar com prudência, poupar e ter esperança, com cuidado e paciência, de conseguir juntar o suficiente para transformar os sonhos em realidade.[2]

Com a enganosa benevolência dos bancos e financeiras, através de um cartão de crédito, a ordem dos fatores foi invertida: desfrute agora e pague depois! Com outras palavras: sorria agora e sofra depois. Conforme Bauman:

Esta era a promessa, só que ela incluía uma cláusula difícil de decifrar, mas fácil de adivinhar, depois de um momento de reflexão: dizia que todo “depois”, cedo ou tarde, se transformará num “agora” – os empréstimos terão que ser pagos; e o pagamento dos empréstimos, contraídos para afastar a espera do desejo e atender prontamente as velhas aspirações, tornará ainda mais difícil satisfazer os novos anseios. Não pensar no “depois” significa, como sempre, acumular problemas.[3]

Quando a satisfação imediata dos desejos de consumo, que nem sempre expressam necessidades reais e urgentes, começa a controlar as pessoas, mais cedo ou mais tarde o descontrole financeiro acontecerá.

E quando a dívida não pode ser paga? Ora, nisso reside o “filé” para os bancos e financeiras de cartões de crédito. O sistema de “pague o mínimo” foi criado, e nisso está o maior lucro dos nossos “generosos” credores. Quando você não consegue pagar o total do cartão de crédito, uma bola de neve financeira se cria, e mês a mês vai crescendo, até lhe esmagar. Os bancos vivem dos devedores, por isso não pagar as dívidas nos mantém reféns deles. Sim, o cliente que paga o cartão ou o empréstimo bancário em dia é o pesadelo dos credores:

As pessoas que se recusam a gastar um dinheiro que ainda não ganharam, abstendo-se de pedi-lo emprestado, não tem utilidade alguma para os emprestadores, assim como as pessoas que (levadas pela prudência ou por uma honra hoje fora de moda) se esforçam para pagar seus débitos nos prazos estabelecidos. Para garantir seu lucro, assim como o de seus acionistas, bancos e empresas de cartões de crédito contam mais com o “serviço” continuado das dívidas do que com seu pronto pagamento. Para eles, o “devedor ideal” é aquele que jamais paga integralmente suas dívidas.[4]

Na mentalidade do capitalismo parasitário, as pessoas que ainda se utilizam da caderneta de poupança e que não possuem nenhum cartão de crédito são um grande desafio para o marketing empresarial, que objetiva não a suprir as necessidade do cliente, mas criar necessidades que não existem. Uma vez presas dos parasitas, dificilmente escapará.

A cultura da dívida é criada nos jovens pelo governo, e isso através do sistema de crédito e financiamento universitário. O slogam do FIES Brasil diz: “Quer cursar uma universidade, o FIES Brasil te ajuda!”. No site do FIES Brasil lemos:

O FIES Brasil é um produto do Instituto Educar que oferece uma nova oportunidade de acesso ao Ensino Superior, auxiliando estudantes de todo o Brasil no processo de contratação do FIES (Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior) .

O FIES é o melhor financiamento para o ensino superior existente no mercado. Ao fazer um financiamento do seu curso através do FIES, você irá pagar apenas R$ 17,00 por mês durante todo o curso, e só vai começar a pagar as parcelas depois de formado, com juros de apenas 3,4% ao ano e um prazo bastante extenso.

Com o FIES Brasil você terá todo o auxílio de que precisa para contratar o seu financiamento FIES. E o melhor: o FIES Brasil é gratuito![5]

Percebam a sutiliza da linguagem, onde tudo parece fácil e bom “agora”, até que chega a hora de pagar, o “depois”.

Além de casos como esse, uma outra forma de introduzir os jovens na cultura da dívida é presenteá-los com cartões de crédito, quando eles ainda nem renda possuem.

Não apenas os jovens, mas o que falar das supostas facilidades e vantagens do crédito consignado para os funcionários públicos, os aposentados e nossos velhos?

Não importa o que você deseja ou precisa comprar, se um carro, um imóvel, um eletrodoméstico, ou qualquer outra coisa, tudo precisa ser bem pensado e planejado, para que você não se torne refém do sistema capitalista parasitário (se já não se tornou!):

Hoje, ingressar nessa condição é mais fácil do que nunca antes na história da humanidade, assim como escapar dessa condição jamais foi tão difícil. Todos os que podiam se transformar em devedores e milhões de outros que não podiam e não deviam ser introduzidos a pedir empréstimos já forma fisgados e seduzidos para fazer dívidas.[6]

A sociedade do Espetáculo

O filósofo e escrito francês Guy Debord, em sua obra A Sociedade do Espetáculo, contribui significativamente para o entendimento da atmosfera criada, onde consumir o supérfluo e fazer dívidas além das possibilidades se tornou prática comum.

A base da sociedade existente é o espetáculo, ou seja, o aparente, o irreal, o ilusório, uma relação social entre pessoas mediada por imagens.[7] A vida organizada socialmente se fundamenta na simples aparência das coisas.

Na sociedade do espetáculo “o que aparece é bom, o que é bom aparece”. Dessa forma, todos querem aparecer, ser vistos, ser aceitos e aplaudidos.

Onde entra aqui a questão econômica e consumista que gera as dívidas? Para Debord:

A primeira fase da dominação da economia sobre a vida social acarretou, no modo de definir toda realização humana, uma evidente degradação do ser para o ter. A fase atual, em que a vida social está totalmente tomada pelos resultados acumulados da economia, leva um deslizamento generalizado do ter para oparecer, do qual todo o “ter” efeito deve extrair seu prestígio imediato e sua função última. Ao mesmo tempo, toda realidade individual tornou-se social, diretamente dependente da força social, moldada por ela. Só lhe é permitido aparecer naquilo que ela não é.[8]

Ouvimos muito declarações do tipo “você vale quanto tem”, expressando o descaso com a essência e as qualidades morais do indivíduo, em benefício de uma exigência social forjada no valor da aparência e do acúmulo de riquezas e bens. Como o capitalismo parasitário não permite o encurtamento das distâncias econômicas, e o abismo entre ricos e miseráveis só aumenta (apesar das tentativas de mascarar essa realidade), a única saída para a conquista e a manutenção do status social daqueles que não têm, foi parecer ter. É nisso que reside a tese de Debord.

Na sociedade do espetáculo eu não tenho condições de ter uma casa ou apartamento de luxo, mas mesmo assim tenho. Eu não tenho condições de ter um carro zero ou de luxo, mas mesmo assim tenho. Eu não tenho condições de ter os bens que meus vizinhos ou amigos possuem, mas mesmo assim tenho. Na sociedade do espetáculo eu não posso ficar “por baixo”, eu não deve parecer que “não tenho”, pois eu preciso ser visto, aceito e aplaudido. Na sociedade do espetáculo eu preciso aparentar ser o astro que não sou, ter o sucesso que não alcancei.

É nessa sociedade do espetáculo que o capitalismo parasitário encontra guarida, e se apresenta como a solução para aqueles seduzidos pela glória do mundo, para os adoradores do dinheiro, para os consumistas insaciáveis.

Compre e apareça! Eis a máxima do capitalismo parasitário e da sociedade do espetáculo.

As Escrituras estão repletas de conselhos e princípios que devem nortear a vida dos filhos de Deus, para que não se tornem presas desse sistema enganoso, opressor e explorador (Êx 20.17; Pv 1.19; 11.15; Is 55.2).

Mas é grande ganho a piedade com contentamento. Porque nada trouxemos para este mundo e manifesto é que nada podemos levar dele. Tendo, porém, sustento e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes. Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína. Porque o amor do dinheiro é a raiz de toda espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé e se traspassaram a si mesmos com muitas dores. (1 Tm 6.6-10)

Dicas Literárias

- Capitalismo Parasitário, Zygmunt Bauman, Editora Zahar.

- Vida a Crédito, Zygmunt Bauman, Editora Zahar.

- A Sociedade do Espetáculo, Debord, Editora Contraponto.

- Sociedade de Consumo, Lívia Baborsa, Jorge Zahar Editor.

- O Império do Efêmero, Gilles Lipovetsky, Companhia de Bolso.

- A História do Consumo no Brasil, Alexandre Volpi, Editora Campus.

- A Explosão Gospel, Magali do Nascimento Cunha, Instituto Mysterum e Muauad X.



[1] BAUMAN, Zygmund. Capitalismo parasitário. Rio de Janeiro: Zahar, 2010, p. 8-9.

[2] Ibid., p. 12.

[3] Ibid., p. 13.

[4] Ibid., p. 15.

[5] Disponível em http://www.fiesbrasil.com.br, acessado em 22/08/2012.

[6] Ibid., p. 19.

[7] DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.

[8] Ibid., p. 18.

Fonte: Blog do Pr. Altair Germano

0 Comentários:

Postar um comentário

Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos corações sábios - Salmos 90.12.

▬▬▬▬▬▬▬

Seu comentário é muito importante para nós da UBE Blogs - União de Blogueiros Evangélicos. Portanto, comente com responsabilidade.

Atenção: Não serão aceitos comentários:

1) Ofensivos
2) Anônimos
3) Em CAIXA ALTA.

Administração UBE Blogs

+-

(A+) (A-)

Postagens populares nos últimos 7 dias

Postagens mais acessadas

Conexão de amizades

Categorias

abaixo-assinado Aborto ação coletiva Aconselhamento Pastoral Acordo Ortográfico Adoração Africa alerta Altair Germano amor ANAJURE ansiedade Antonio Flávio Pierucci Apologética Arminismo e Calvinimo Arrecadação de Impostos artte assuntos atuais Ateísmo atitudes audio-books barbárie Belverede Bíblia Bíblia de Estudo Bibliotecas virtuais biografia Blog do Momento Blogagem Coletiva blogagem profética Blogger Blogosfera Cristã blogueiros Boicote Brasil Cadastro Campanhas Caramuru Afonso Francisco Carla Ribas Carlos Eduardo B. Calvani Carlos Nejar Carlos Roberto Silva Carnaval cartunista cristão casamento cenas da vida CGADB charge Charles Péguy cidadania Cinema Cintia Kaneshigue clamor Como criar e editar um blog? comportamento Comunicados Concurso no blog Concursos conectados em oração Consciência Cristã conscientização Contribuição conversão copa 2014 corporativismo corrupção cosmovisão cristã CPAD CPAD News Creative Commons crianças crianças desaparecidas crime criminalidade Cristofobia Culto de Missões debate Denúncias dependência de Deus Desafiando Limites Desaparecidos Desarmamento Desastres Naturais Descriminalização da maconha Deus. devocional Dia da Bíblia dia da mulher Dia das Mães Dia de Missões Dia dos Namorados Dia dos Pais Dicas dinheiro direitos humanos discurso Divulgação Domingo da Igreja Perseguida dons espirituais downloads Dr. Luis Pianowski Drogas DVD e-book EBD Ecologia e Natureza Editorial educação Eleições Eleições 2014 Eliseu Antonio Gomes ENBLOGUE Enquete ensino Entrevistas Escatologia Escola Dominical Escrita Esdras Costa Bentho Esperança Esportes estatísticas Estudos Etica Etica no Blogar Evangelho Evangelismo Evento exegese bíblica Facebook Família família Cristã Felipe M Nascimento Fidelidade e Infidelidade conjugal filhos filme Filosofia fim do mundo formação de opinião frases e citações Frida Vingren futebol Game Geisa Iwamoto Genivaldo Tavares de Melo George Soros Geremias do Couto Geziel Gomes gif Google Friend Connect Google Plus (G+) governo Graça Guerra Cultural Gutierres Siqueira Haiti Hinários História Holocausto homilética HQ Humor idosos igreja Igreja Perseguida Imagens Cristãs inspiração Integridade Moral e Espiritual Intelectualidade Interatividade intercessão internet Internet Evangélica intolerância Islamofobia Izaldil Tavares de Castro J.T.Parreira Jairo de Oliveira Japão jejum Jesus: O Homem Perfeito Jesus. João Cruzué jogos eletrônicos Johann Sebastian Bach José Wellington Bezerra da Costa Judeus judiciário Júlio Severo Jurgen Moltmann justiça juventude Kelem Gaspar legislação LGBTS liberdade de expressão liberdade de imprensa lição de vida Lições Bíblicas Adulto Lições Bíblicas Jovens liderança literatura livro digital Livros Louvor Lucas Santos Luis Ribeiro Luiz Sayão maconha Magno Malta manifestações copa manisfestação Mantenedores UBE Blogs Manual da UBE Marco Feliciano maridos Marina Silva Mark Carpenter Marl Virkler Marta Suplicy Martinho Lutero mártires Maya Felix Meios de comunicação mensagem mentira Missão Missão Integral missiologia missões morte Motivação mulheres música namoro Natal Nazismo Nietzsche Notícias objetivos opinião oração orientação Orkut ortodoxia Pablo Massolar papel de parede parábola páscoa passatempos pastores Paul Tripp Paul Washer pecado pecaminosidade pena de morte perdão Perseguição política Perseguição religiosa Pinterest PL 122/2006 Plágio planejamento planejar PNDH - 3 poder de Deus Poesia polêmicas Política Pornografia portas abertas Português pregação e pregadores Primavera de Sara profecia profecias maias profeta Promoção Protestantes protesto Rankings Recursos Redes Sociais Reflexão Reforma Protestante remissão Repúdio ressurreição Retrospectiva Revista Cristã REVISTA FORBES Robin Willians Ronaldo Côrrea Sammis Reachers Saúde Pública SBB Selos Senado Federal SENAMI Sentido da vida Sidnei Moura Silas Daniel Silas Malafaia sociologia Sorteios STF suborno super-crente Teatro Tecnologias Televisão Templates teologia Teologia Brasileira teologia da prosperidade testemunho Tim Keller trabalho escravo tradução Tráfico Humano tráfico sexual tragédias tribulações triunfalismo tutoriais Twitter UBE UBE 2007 UBE 2008 UBE 2009 UBE 2010 UBE 2011 UBE 2012 UBE 2013 UBE 2014 UBE 2015 UBE 2016 UBE 2017 UBE 2021 UBE NA MÍDIA UBEbooks UOL utilidade pública Uziel Santana vaidade Valmir Nascimento Milomen viagem missionária vício Victor Leonardo Vida Cristã vida eterna vida real vídeo Viktor Frankl VINACC Vinicius Pimentel voto voto evangélico Wagner Santos Wallace Sousa wallpaper Wellykem Marinho Wesleianismo Wilma Rejane Wordpress Yosef Nadarkhani Zip Net