Visite o Pesquisa Gospel
Mostrando postagens com marcador Sidnei Moura. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Sidnei Moura. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 15 de março de 2016

A reforma protestante e a espiritualidade clássica

Posted by Sidnei Moura on terça-feira, março 15, 2016 with No comments

A chamada igreja evangélica atual tem origem na Reforma, e ao longo do tempo recebeu a contribuição de diversos movimentos como: anabatismo, puritanismo, pietismo, avivamentos do século XVIII, sociedades missionárias, fundamentalismo, pentecostalismo clássico, missão integra. O conjunto destes movimentos iniciados com a Reforma é o que conhecemos como Protestantismo. Vivemos atualmente sob o impacto do controverso movimento neo-pentecostal. Foram sopros do Espírito Santo ao longo da História, intervenções de Deus para dentro da realidade humana, com suas instituições, seu poder político e econômico. Nenhum destes movimentos é perfeito, cada um deles tem sua luz e sua sombra. É um equivoco abraçar algum deles incondicionalmente. A tendência que se observa é abraçar um destes movimentos como a última e definitiva revelação de Deus e excluir os demais, considerando-os inferiores e muitas vezes até hereges.

Como cada um destes movimentos tem aspectos positivos e negativos, torna-se fácil criticá-los e combatê-los, principalmente porque geralmente a partir da segunda e terceira geração depois da visitação de Deus, a tendência é o engessamento e a institucionalização com suas estruturas de poder.

Ser evangélico hoje significa andar nos passos dos reformadores e destas outras contribuições, seja buscando alguma integração, seja na ênfase de uma só delas. No entanto, não se trata de eleger uma ou outra, mas de discernir o sopro do Espírito que, de tempos em tempos, renova algum aspecto que foi negligenciado ou esquecido da teologia e da prática de Jesus de Nazaré. Trata-se de julgar e reter o que há de bom em cada uma delas e receber com alegria esta preciosa herança, aprendendo com a História e com aqueles que trilharam o caminho da fé, da esperança e do amor antes de nós.

A Reforma aconteceu no século XVI. O que podemos aprender dos primeiros mil e quinhentos anos da história da igreja? Muitos evangélicos esclarecidos dizem: nada. Antes da Reforma só existiam duas igrejas cristãs: a Romana e a Ortodoxa. Lutero e Calvino eram agostinianos e lemos abundantes citações dos Pais da Igreja nas Institutas de Calvino. Precisamos confessar, como evangélicos, nosso preconceito e orgulho. Pois, até hoje, olhamos com suspeita para tudo o que aconteceu no seio da Igreja de Cristo anterior à Reforma, por considerar esta contribuição como Católica Romana, e achar que, do catolicismo, não pode vir nada valioso.

O fato é que, durante os primeiros mil e quinhentos anos de História da Igreja, o Espírito Santo também soprou várias vezes. A Espiritualidade Clássica engloba a contribuição dos santos e doutores da igreja nos movimentos da Patrística, da Monástica e da Mística Medieval, isto é, o vento do Espírito anterior à Reforma.

O que se observa hoje é que alguns protestantes se debruçam sobre este período, a Espiritualidade Clássica, com o desejo de aprender e integrar na experiência evangélica aquilo que há de bom. Evangélicos como Hans Burki, James Houston, Eugene Peterson, Alister McGrath, Richard Foster, Ricardo Barbosa estão redescobrindo a riqueza da Espiritualidade Clássica, como contribuições vitais para a igreja de hoje. Católicos contemporâneos também buscam resgatar esta tradição: Henri Nouwen, Anselm Grun, Thomas Merton e outros. A Comunidade de Taizé, fundada pelo reformado Irmão Roger, tem alcançado muitos jovens na Europa e outros países, com sua proposta de reconciliação, integrando o que há de bom nas tradições ortodoxa, católica e reformada.

É uma falácia achar que a Reforma do século XVI, apesar de sua importância fundamental, é o único e definitivo mover do Espírito Santo na História da Igreja, e que nada de bom aconteceu nos séculos precedentes. Felizmente para nós estes antigos movimentos estão documentados e podemos aprender com eles.

Alguns esclarecimentos que se fazem importantes acerca da Espiritualidade Clássica:

1) Não é um produto. Não é mais uma mercadoria na prateleira religiosa para um mercado ávido por consumir novidades. Mas, trata-se de um olhar mais profundo para os conteúdos e a prática da fé cristã, ancorado na experiência com a Palavra e com o Espírito Santo, para vivermos a vida de Cristo em nós.

2) Não é uma prática mística, alienante baseada em técnicas religiosas que produzem sensações agradáveis e felicidade instantânea. Suas ênfases no silêncio e na solitude, na meditação e na contemplação não são fins em si mesmo, mas meios para uma vida de santidade e serviço ao próximo. Com a Lectio Divina, nós evangélicos podemos resgatar uma leitura bíblica com o coração, com os afetos.

3) Embora a monástica seja muito mal vista pelos evangélicos, é inegável seu impacto no Ocidente. No século III, após a conversão de Constantino e do cristianismo se tornar a religião oficial do império, homens e mulheres se retiraram em regiões ermas e remotas para orar e ler a Bíblia. Surgiram os mosteiros e as regras. Ao redor do mosteiro floresceu a civilização ocidental: a biblioteca gerou a academia, o espaço do sagrado atraiu artistas, o ora et labora desenvolveu tecnologias de cultivo, preparo e conservação de alimentos.

4) O resgate da Espiritualidade Clássica não busca resultados, ou conquistar o mundo, muito menos ainda causar um impacto na Igreja. Ao contrário se remete ao simples, ao pequeno, ao fraco. Não é para ser marketeado, sistematizado, explicado, reproduzido. Não busca uma recompensa imediata. Não é para ganhar nada, mas um caminho para aqueles que amam o Pai, o Filho e o Espírito Santo, para aqueles que abriram mão do poder e querem simplesmente crescer na comunhão com Deus, ouvir sua voz e responder com dedicação e consagração. 

A multiforme sabedoria de Deus não uma experiência de conhecimento que pertence a um indivíduo ou a um grupo, ou a movimento. Mas engloba o patrimônio de revelação de Deus através da História da Igreja. Ou seja, as muitas vezes que o Espírito Santo revitalizou, renovou, corrigiu, avivou e despertou o povo de Deus de seus desvios e acomodações ao longo dos séculos e através da nações, nas três confissões cristãs: Ortodoxa, Romana e Reformada.

Para isto há que se vencer o preconceito evangélico, que considera que tudo o que é católico é herético e, ao fazer isto, se auto-proclama dono da verdade. Assim rejeita o Pastor de Hermas, Clemente, Justino, Inácio de Antioquia, Orígenes, Policarpo, Pacomio, Antão, Bento, Atanásio, Crisostemo, Gergório Nazianzeno, Basilio, Agostinho, Bento, Bernardo de Claraval, Francisco de Assis, Tomas de Aquino, Catarina de Siena, Inácio de Loyola, Savonarola, João da Cruz, Tereza D’Ávila, Bartolomeu de las Casas, Tereza de Calcutá e muitos outros.  Estou certo que a leitura dos pais orientais, dos santos místicos e dos doutores do passado e a apreciação do exemplo de suas vidas podem contribuir decisivamente para a Igreja do Século XXI.

E, claro, integrando com a contribuição de John Wyclif, Jun Huss, Lutero, Calvino, Zwinglio, George Fox, John Bunyan, John Knox, Conde Von Zinzendorf, John Wesley, Philip Jacob Spener, Geroge Whitefield, Charles Finney, Jonathan Edwards, D.L.Moddy, William Carey, Hudson Taylor, David Livinstone, Willian Both, Karl Barth, Paul Tillich, Dietrich Bonhoeffer, Martin Luther King, John Stott, René Padilha, Samuel Escobar e tantos outros.

Sim, sou um reformado evangélico: Sola Scriptura, Sola Gratia, Sola Fide, Solus Christus, Soli Deo Gloria. E aberto para aprender e integrar a Espiritualidade Clássica na minha experiência cristã. Aprecio e sou edificado com o que aconteceu em Nicéia (325), Monte Cassino (529), Assis (1223), Wittenberg (1517), Westminster (1647), Azuza Street (1905), Medelin (1968) Lausanne (1974), e com outros momentos que o Espírito soprou na História da Igreja. E acho importante e promissor este diálogo entre a Reforma Protestante e a Espiritualidade Clássica, integrando o que é de bom nestes movimentos.

E prossigo no meu caminho: na intimidade com o Pai, sob a direção da Palavra e a inspiração do Espírito Santo; buscando a santidade de Cristo e, com a Igreja, anunciando o Evangelho e servindo aos pobres. E quando falho, me arrependo, experimento a graça perdoadora e recomeço.

Fonte: Teologia Brasileira     

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Bach: Um oceano de inspiração e genialidade musical

Posted by Sidnei Moura on sexta-feira, fevereiro 12, 2016 with No comments
Monumento em homenagem a Bach, em Eisenach - Alemanha


"Bach (riacho, em alemão) deveria se chamar Ozean (oceano) e não Bach!". A frase é de ninguém menos que Ludwig Van Beethoven e, se um músico da grandeza de Beethoven assim se pronuncia sobre ele, bem se pode imaginar a dimensão que se pode atribuir ao compositor barroco Johann Sebastian Bach.

Na verdade, desde Veit Bach, que no século XVI tocava cítara, até 1685, são contados 27 músicos na família Bach. O mais célebre, porém, merecidamente, foi Johann Sebastian Bach, que nasceu em Eisenach, uma pequena cidade da Turíngia, no centro da Alemanha. Seu pai, Johann Ambrosius Bach, era um músico da cidade e ensinou Bach a tocar violino e viola e a escrever as notas musicais, além de criá-lo na fé protestante.

Seus pais morreram antes que completasse 10 anos e a continuação de sua formação musical ficou a cargo de seu irmão, Christoph, que trabalhava como organista em Ohrdruf, cidade próxima, onde passariam a morar. Aos quinze anos, Johann Sebastian ingressou na escola de São Miguel de Lünenburg, onde cantaria no coro da igreja e teria ensino formal de música.

Em suas viagens de férias aos centros culturais mais próximos, familiarizou-se com a obra de Jean-Baptiste Lully e François Couperin. Em Hamburgo, conheceu a grande tradição alemã de Jan Adams Reinken e Vincent Lübeck. Bach fez progressos admiráveis, e, aos dezoito anos, foi contratado como organista da nova igreja luterana de Arnstadt, recém-construída, onde permaneceu de 1703 a 1707. Ausentando-se por quatro meses, conheceu em Lübeck o célebre Dietrich Buxtehude, de quem recebeu lições que modificariam sua maneira de interpretar o órgão.

De volta a Arnstadt, Bach não foi bem aceito no templo matriz, o que fez com que ele aceitasse o cargo de organista na igreja de São Blásio de Mühlhausen. Foi nesses dois locais que começou a compor sua primeiras obras religiosas.

Casou-se em outubro de 1707 com sua prima Maria Bárbara, que morreria 12 anos depois. Deste casamento ficaram sete filhos, dos quais três se tornaram músicos; Wilhem Friedemann, Carl Philipp Emanuel e Johann Gottfried Bernhard. Entre 1707 e 1717, trabalhou como organista, violinista e compositor na corte de Weimar, período cheio de conflitos com o duque, já que ambos tinham personalidades difíceis.

Então, Bach foi para Köthen, onde trabalhou para o príncipe calvinista Leopold d'Anhalt-Köthen. Foram cinco anos frutíferos, embora Bach não pudesse escrever música religiosa, ficando restrito à música secular. Datam dessa época os "Concertos de Brandenburgo", o "Cravo Bem-Temperado", a maior parte de sua música de câmara e as suítes orquestrais.

Em 1721, Bach casa-se com Anna Magdalena Wülken, cantora da corte. Com ela teve treze filhos, sendo que dois deles - Johann Cristoph Friedrich e Johann Christian - também se tornaram músicos.
Em maio de 1723, Bach obteve o cargo de "kantor" (professor e diretor musical) na Igreja de São Tomás, em Leipzig. Embora descontente com a rotina do trabalho, foi ali que compôs a maior parte de suas cantatas, a "Missa em Si Menor" e as duas paixões mais conhecidas - a de São João e a de São Mateus.

De suas composições, duas das mais popularmente conhecidas são a "Tocata e Fuga em Ré Menor" e "Jesus, Alegria dos Homens". "Oferenda musical", "Oratório de Natal", e a inacabada "A Arte da Fuga" são outras grandiosas criações de Bach, que durante muito tempo teve sua obra considerada como mística e hermética. Johann Sebastian Bach começou a se retirar da vida ativa a partir de 1747. Dois anos depois, operado de catarata por um charlatão inglês, ficou praticamente cego.

Apesar da genialidade, Bach não foi compreendido devidamente no seu tempo. Após a sua morte, em 28 de julho de 1750, suas músicas praticamente caíram no esquecimento. Sua obra ficou nas sombras até 1829, quando Felix Mendelssohn regeu a “Paixão Segundo São Mateus” em Berlim, o que garantiu o resgate da obra do compositor e a sua consagração definitiva. Hoje, a trajetória da vida musical de Bach influencia músicos, orquestras e corais em todo o mundo, tanto no âmbito da musica sacra quanto da música secular erudita.

(Com informações de UOL Educação)

Ouça as principais composições de Bach (requer Spotify)


Fonte: Sidnei Moura

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

O advento da humildade

Posted by Sidnei Moura on terça-feira, janeiro 12, 2016 with No comments

Tim Keller

Inúmeros teólogos, estudiosos e admiradores ressaltam as circunstâncias humildes do nascimento de Jesus: entre pastores, num tosco estábulo, um cocho servindo de berço. Quando Jesus tentou resumir por que as pessoas deveriam tomar a sua cruz ao segui-lo, disse que era por ele ser manso e humilde (Mt 11:29). Raramente, no entanto, exploramos todas as implicações da humildade radical de Jesus para nosso viver diário.

A humildade é crucial aos cristãos. Só podemos receber Cristo por meio da mansidão e humildade (Mt 5:3,5; 18:3,4). Jesus humilhou-se a si mesmo e foi exaltado por Deus (Fl 2:8-9); portanto, a alegria e a força por meio da humildade é a verdadeira dinâmica da vida cristã (Lc 14:11; 18:14; I Pe 5:5).

O ensino parece simples e óbvio. O problema é que precisamos de muita humildade para entender a humildade e de muito mais para resistir ao orgulho que vem tão naturalmente com a discussão deste assunto.

Estamos num terreno escorregadio, pois a humildade não pode ser alcançada diretamente. Uma vez que nos tornamos conscientes do veneno do orgulho, começamos a percebê-lo ao nosso redor, tanto nos tons sarcásticos e peçonhentos das colunas de jornais e blogs quanto nos nossos vizinhos e alguns amigos ciumentos, autopiedosos e ostensivos.

Então prometemos não falar ou agir dessa forma. Se percebermos “uma modesta mudança de atitude” em nós mesmos, imediatamente nos tornamos presunçosos – mas isso é o orgulho em nossa humildade. Se nos pegamos fazendo a mesma coisa de novo, ficaremos particularmente impressionados com quão sugestivos e sutis nos tornamos.

A humildade é tão tímida! Se começamos a falar sobre ela, já não existe mais. Se nos perguntarmos “sou humilde?”, já não o somos mais. Examinar nosso próprio coração, até por orgulho, geralmente nos leva a ter orgulho de nossa diligência e circunspecção.

A humildade cristã não significa pensar menos em si. É pensar menos de si, como tão memoravelmente disse C.S. Lewis. É não ficar o tempo todo observando a si próprio ou como você está se saindo com alguma coisa ou de que forma está sendo ameaçado. É um “auto-esquecimento abençoado”.

A humildade é subproduto de crermos no evangelho de Cristo. No evangelho, temos uma confiança não baseada em nosso desempenho, mas no amor de Deus em Cristo (Rm 3:22-24). Isso nos liberta de ter de ficar sempre nos avaliando. Porque Jesus teve de morrer por nós, colocamo-nos abaixo de nosso orgulho. Porque Jesus teve prazer em morrer por nós, amamo-nos além da necessidade de provar qualquer coisa a nós.

Graça, não benevolência – Corremos riscos quando discutimos sobre a humildade, pois a religião e a moralidade inibem a humildade. É comum na comunidade evangélica conversar sobre o ponto de vista mundano – um conjunto de crenças básicas e promessas que permeiam a maneira como vivemos em cada circunstância. Outros preferem o termo “identidade narrativa”. É um conjunto de respostas às perguntas “quem sou eu? O que é a minha vida? Por que estou aqui? Quais são as principais barreiras que me impedem de me sentir pleno? Como posso lidar com essas barreiras?”.

Há duas identidades narrativas básicas em voga entre os que professam ser cristãos. A primeira é o que chamo de identidade narrativa de desempenho moral: as pessoas que dizem do fundo de seus corações “eu obedeço, portanto, sou aceito por Deus”. A segunda é o que vou chamar de identidade narrativa da graça. O princípio básico dessa operação é “sou aceito por Deus por meio de Cristo, portanto, obedeço”.

As pessoas que vivem sobre as bases desses dois princípios diferentes podem superficialmente se parecerem iguais. Podem se sentar bem ao lado uma da outra num banco de igreja, esforçando-se para obedecer à lei de Deus, orar, dar dinheiro generosamente, ser bom com os membros familiares. Mas, no fundo, estão fazendo por motivos radicalmente diferentes, com inspirações radicalmente diferentes, resultando em caracteres de personalidade radicalmente diferentes.

Quando as pessoas que vivem baseadas numa narrativa de desempenho moral são criticadas, ficam furiosas ou devastadas, porque não conseguem tolerar as ameaças às suas auto-imagens de serem “boas pessoas”.

No evangelho, nossa identidade não é construída sobre esse tipo de imagem e temos um peso emocional de ter que lidar com a crítica sem dar o troco. Quando as pessoas vivem firmadas na narrativa de desempenho moral, baseiam seu valor próprio por serem trabalhadoras ou teologicamente irrepreensíveis e, então, precisam desprezar aquelas que são consideradas preguiçosas ou teologicamente fracas.

Mas há aqueles que entendem que, de acordo com o evangelho, não se pode desprezar ninguém, pois foram salvas por pura graça, não por suas doutrinas perfeitas ou forte caráter moral.

O fedor do moralismo – Outra marca da narrativa de desempenho moral é a constante necessidade de encontrar falhas, vencer argumentos e provar que todos os seus oponentes não estão somente enganados, mas são traidores desonestos. No entanto, quando o evangelho é compreendido profundamente, nossa necessidade de vencer argumentos é dispensada e nossa linguagem se torna graciosa. Não precisamos ridicularizar nossos oponentes e passamos a lidar com eles respeitosamente.

As pessoas que vivem baseadas na narrativa de desempenho moral se valem de um humor sarcástico e farisaico ou não têm nenhum senso de humor. Lewis fala de “uma concentração sisuda sobre si próprio, que é a marca do inferno”. O evangelho, entretanto, cria um senso gentil da ironia. Encontramos motivos para rir, a começar pelas nossas fraquezas. Elas já não nos ameaçam mais, pois nosso valor derradeiro não está baseado em nossos recordes ou bons desempenhos.

Um discernimento básico de Martinho Lutero foi que o moralismo é um defeito do coração humano. Mesmo os cristãos que acreditam no evangelho da graça em primeira instância podem continuar a operar como se tivessem sido salvos por seus próprios méritos. Em “O grande pecado”, na obra Cristianismo puro e simples, Lewis escreve: “Se achamos que a nossa vida religiosa está nos fazendo sentir que somos bons – e acima de tudo, que somos melhores que os outros – creio que podemos ter a certeza de estar agindo não de acordo com Deus, mas com o diabo”.

Graça e humildade que nos levam a esquecer de nós mesmos deveriam ser as coisas preliminares a distinguir os cristãos de muitos outros tipos de pessoas morais e decentes do mundo. Mas acho que é justo dizer que a humildade, principal marca diferenciadora do cristão, está muito em falta na igreja. Os não crentes, ao detectar o fedor do moralismo, vão embora.

Alguns podem dizer “o farisaísmo e o moralismo não são nossos maiores problemas culturais no momento. Nossos problemas são a liberdade e o antinomianismo. Não há necessidade de falar sobre a graça o tempo todo para pós-modernizar as pessoas”. Mas as pessoas pós-modernas têm rejeitado o cristianismo durante anos, achando que não é diferente do moralismo. Somente se você mostrar-lhes que há uma diferença – o que eles rejeitaram não era o verdadeiro cristianismo – talvez, então, elas comecem a ouvir novamente.

Renove sua humildade aqui – Esse é o ponto em que o autor deve apontar soluções práticas. Não tenho nenhuma. Aqui vão os porquês.

Primeiro, o problema é muito grande para soluções práticas. A ala da igreja que está mais preocupada com a perda da verdade e com comprometimentos é, na verdade, infame em nossa cultura por seu farisaísmo e orgulho. Entretanto, há muitos em nossos círculos que, reagindo ao que eles entendem por arrogância, desviam-se das muitas doutrinas protestantes clássicas (como Justificação Legal e Reparação Substitutiva) que são cruciais e insubstituíveis – e também dos melhores recursos possíveis para a humildade.

Segundo, falar diretamente sobre maneiras práticas de se tornar modesto, tanto a indivíduos como comunidades, é sempre um tiro pela culatra. Afirmei que as principais alas da igreja evangélica estão erradas. Então quem sobra? Eu? Estou começando a pensar que somente poucos, os poucos felizes, alcançaram o equilíbrio de que tanto a igreja precisa? Acho que estou ouvindo algo murmurando em meus ouvidos: “sim, apenas você pode realmente ver as coisas com clareza”.

Realmente espero esclarecer, ou nem teria escrito sobre esse assunto. Mas não há maneira de se começar a falar às pessoas sobre como se tornar modesto sem destruir os fragmentos de humildade que elas possam já possuir.

Terceiro, a humildade só é alcançada como um produto derivado do entendimento, da crença e do maravilhamento sobre o evangelho da graça. Mas o evangelho não nos modifica de modo mecânico. Recentemente, ouvi um sociólogo dizer que, para a maior parte, as estruturas de significado para as quais direcionamos nossas vidas estão tão profundamente intrínsecas em nós que operam “pré-refletivamente”. Não existem apenas como uma lista de proposições, mas também como temas, motivos e atitudes. Quando ouvimos o evangelho sendo pregado ou meditamos nas escrituras, estamos sendo levados tão profundamente aos nossos corações, imaginações e pensamentos que começamos a instintivamente “viver” o evangelho.

Então vamos pregar sobre a graça até que a humildade comece a crescer em nós.



Tim Keller é pastor da Igreja Presbiteriana Redeemer em Manhattan, Nova York, e escritor.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

A autorreferência e a pobreza da teologia evangélica brasileira

Posted by Sidnei Moura on sexta-feira, dezembro 11, 2015 with No comments





Gutierres Fernandes Siqueira

A Igreja Evangélica Brasileira é o segundo ou terceiro maior ajuntamento de protestantes do mundo, mas não reflete essa grandeza na produção teológica. Evidente que vários fatores influenciam esse quadro, mas há um ponto que, na minha visão, é determinante no empobrecimento da teologia brasileira: o espírito de gueto.

Talvez esse mal não seja apenas brasileiro, mas só posso falar daquilo que conheço. Há, infelizmente, uma forte tendência à autorreferência e, também, ao fechamento sectário em pequenos grupos. O cristianismo é muito amplo e multiforme para que a teologia viva o tempo todo em compartimentos.

Vejamos alguns pontos: 

1. Este texto não é contra a ideia de referência. É obvio que todos nós nos identificamos com uma ou outra teologia e procuramos valorizá-la. Este blog tem um nome que já mostra a preferência do editor. O que condeno aqui é o apego excessivo ao objeto de admiração e estudo.

2. Já li textos e livros que pretendiam trabalhar uma doutrina cristã genericamente e até exaustivamente (como a eclesiologia ou pneumatologia, por exemplo), porém só citavam autores da sua própria escola teológica.

3. Digamos que eu queria escrever ou pregar profundamente na Epístola aos Romanos. Será que posso ignorar comentários de Karl Barth ou Martyn Lloyd-Jones só porque não sou nem neo-ortodoxo e nem calvinista puritano? Será que posso ignorar dois grandes comentaristas da epístola só porque eles não são parte do meu mundo teológico?

4. Sempre procuro ler João Calvino quando quero expor um texto bíblico. Faço isso porque vejo nos comentários de Calvino uma ótima qualidade exegética e uma impecabilidade homilética, mas não porque eu seja adepto de toda a teologia do reformador francês. Pelo contrário, prefiro a soteriologia de Armínio. Todavia, por que desprezarei o melhor de Calvino só porque não sou calvinista? E, infelizmente, talvez não haja grupo mais sectário do que os calvinistas brasileiros. Talvez, ludibriados pela qualidade de muitos teólogos calvinistas (e do próprio reformador) esquecem que há vida além desse espaço.  

5. E o que dizer dos nossos congressos? Sempre os mesmos nomes, os mesmos temas, os mesmos debates e até as mesmas respostas para perguntas que ninguém nem está fazendo.

Ou mudamos esse quadro ou continuaremos na mediocridade. O calvinista pode aprender com o pentecostal que pode aprender com o wesleyano. O anglicano pode aprender com o puritano que pode aprender com o metodista. Sim, todos nós podemos desfrutar o melhor da teologia evangélica, basta um pouco de humildade.


Gutierres Fernandes Siqueira é blogueiro e professor de Escola Dominical na Igreja Evangélica Assembleia de Deus - Ministério do Belem. É formado em Comunicação Social - Jornalismo, e pós graduado em Mercado Financeiro. É editor de um dos blogs  mais acessados da blogosfera evangélica brasileira - o blog Teologia Pentecostal.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Mediocridade teológica e inversão de valores

Posted by Sidnei Moura on quinta-feira, novembro 12, 2015 with No comments



Carlos Eduardo B. Calvani

Sou um professor de Teologia em crise com a dificuldade que eu e outros colegas enfrentamos nos últimos anos diante dos novos seminaristas enviados para as faculdades de teologia evangélica. Tenho trabalhado como Professor em Seminários Evangélicos desde 1991 e, tristemente, observo que nunca houve safras tão fracas de vocacionados como nos últimos três anos.

No início de meu ministério docente, recordo-me que os alunos chegavam aos seminários bastante preparados biblicamente, com uma visão teológica razoavelmente ampla, com conhecimentos mínimos de história do cristianismo e com uma sede intelectual muito grande por penetrar no fascinante mundo da teologia cristã. Ultimamente, porém, aqueles que se matriculam em Seminários refletem a pobreza e mediocridade teológica que tomaram conta de nossas igrejas evangélicas.

Sempre pergunto aos calouros a respeito de suas convicções em relação ao chamado e à vocação. Pois outro dia, um calouro saiu-se com a brilhante resposta: “não passei em nenhum vestibular e comecei a sentir que Deus impedira meu acesso à universidade a fim de que eu me dedicasse ao ministério”…

A grande maioria dos novos vocacionados chega aos Seminários influenciada pelos modismos que grassam no mundo evangélico. Alguns se autodenominam “levitas”. Outros, dizem que estão ali porque são vocacionados a serem “apóstolos”. Ultimamente qualquer pessoa que canta ou toca algum instrumento na Igreja, se autodenomina “levita”. Tento fazê-los compreender que os levitas, na antiga aliança, não apenas cantavam e tocavam instrumentos no Templo, como também cuidavam da higiene e limpeza do altar dos sacrifícios (afinal, muito sangue era derramado várias vezes por dia), além de constituírem até mesmo uma espécie de “força policial” para manter a ordem nas celebrações.

Porém, hoje em dia, para os “novos levitas” basta saber tocar três acordes e fazer algumas coreografias aeróbicas durante o louvor para se sentirem com autoridade até mesmo para mudar a ordem dos cultos. Outros há, que se auto-intitulam “apóstolos”. Dentro de alguns dias teremos também “anjos”, “arcanjos”, “querubins” e “serafins”. No dia em que inventarem o ministério de “semi-deus” já não precisaremos mais sequer da Bíblia.

Nunca pensei que fosse escrever isso, pois as pessoas que me conhecem geralmente me chamam de “progressista”. Entretanto, ultimamente, ando é muito conservador. Na verdade, “saudosista” ou “nostálgico” seriam expressões melhores. Tenho saudades de um tempo em que havia um encadeamento lógico nos cultos evangélicos, em que os cânticos e hinos estavam distribuídos equilibradamente na ordem do culto. Atualmente os chamados “momentos de louvor” mais se assemelham a shows ensurdecedores ou de um sentimentalismo meloso. Pior: sobrepujam em tempo e importância a centralidade da Palavra e da Ceia nas Igrejas Protestantes. Muitas pessoas vão à Igreja muito mais por causa do “louvor” do que para ouvir a Palavra que regenera, orienta e exige de nós obediência. Percebo que alguns colegas pastores de outras igrejas freqüentemente manifestam a sensação de sentirem-se tolhidos e pressionados pelos diversos grupos de louvor. O mercado gospel cresceu muito em nosso país e, além de enriquecer os “artistas” e insuflar seus egos, passou a determinar até mesmo a “identidade” das igrejas evangélicas. Trata-se da “xuxização” (“todo mundo batendo palma agora… todo mundo tá feliz? tá feliz!”) do mundo evangélico, liderada pelos “levitas” que freqüentemente aprisionam ideologicamente os ministros da Palavra. O apóstolo Paulo dizia que a Palavra não está aprisionada. Mas, em nossos dias, os ministros da Palavra, estão – cativos da cultura gospel.

Tenho a impressão de que isso tudo é, em parte, reflexo de um antigo problema: o relacionamento do mundo evangélico com a cultura chamada “secular”. Amedrontados com as muitas opções que o “mundo” oferece, os pais preferem ter os filhos constantemente sob a mira dos olhos aos domingos, ainda que isso implique em modificar a identidade das Igrejas. E os pastores, reféns que são dos dízimos de onde retiram seus salários, rendem-se às conveniências, no estilo dos sacerdotes do Antigo Testamento. Um aluno disse-me que, no dia em que os evangélicos tomarem o poder no Brasil acabarão com o carnaval, as “folias de rei”, os cinemas, bares, danceterias etc. Assusta-me o fato de que o desenvolvimento dessa sub-cultura “gospel” torne o mundo evangélico tão guetizado que, se um dia, realmente os evangélicos tomarem o poder na sociedade, venham a desenvolver uma espécie de “Talibã evangélico”. Tal como as estátuas do Buda no Afeganistão, o “Cristo Redentor” estará com os dias contados.

Esses jovens que passam o dia ouvindo rádios gospel e lendo textos de duvidosa qualidade teológica, de repente vêm nos Seminários uma grande oportunidade de ascensão profissional e buscam em massa os seminários. Nunca houve tanta afluência de jovens nos seminários como nos últimos anos. Em um seminário em que trabalhei, os colegas diziam que a Igreja, em breve teria problemas, pois o crescimento da Igreja não era proporcional ao número de jovens que todos os anos saíam dos Seminários, aptos para o exercício do ministério. A preocupação dos colegas era: onde colocar todos esses novos pastores? Na minha ingenuidade, sugeri que seria uma grande oportunidade missionária: enviá-los para iniciarem novas comunidades em zonas rurais e na periferia das cidades. Foi então que um colega, bastante sábio, retrucou: “Eles não querem. Recusam-se! Querem as Igrejas grandes, já formadas e estabelecidas, sem problemas financeiros”.

Na maioria dos Seminários hoje, os alunos sabem o nome de todas as bandas gospel, mas não sabem quem foi Wesley, Lutero ou Calvino. Talvez até já tenham ouvido falar desses nomes, mas são para eles, como que personagens de um passado sem-importância e sobre o qual não vale a pena ler ou estudar. Talvez por isso eu e outros colegas professores nos sintamos hoje em dia como que “falando para as paredes”. Nem dá gosto mais preparar uma aula decente, pois na maioria das vezes temos sempre que “voltar aos rudimentos da fé” e dar aos vocacionados o leite que não recebem nas Igrejas. Várias vezes me vi tendo que mudar o rumo das aulas preparadas para falar de assuntos que antes discutíamos nas Escolas Dominicais. Não sei se isso acontece em todos os Seminários, mas em muitos lugares, o conteúdo e a profundidade dos temas discutidos pouco difere das aulas que ministrávamos na Escola Dominical para neófitos.

Sei que muitos que lerem esse desabafo, não concordarão em nada com o que eu disse. Mas não é a esses que me dirijo, e sim aos saudosistas como eu, nostálgicos de um tempo em que o cristianismo evangélico no Brasil era realmente referencial de uma religiosidade saudável, equilibrada e madura e em que a Palavra lida e proclamada valia muito mais que o último CD da moda.

Publicado originalmente com título "Sobre levitas, apóstolos e outros modismos".

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

O fiel é Deus

Posted by Sidnei Moura on segunda-feira, outubro 12, 2015 with No comments

"Deus é fiel" tornou-se a máxima dos proponentes de um falso evangelho
em que Deus desempenha o papel de um mero serviçal do homem.

Antônio Flávio Pierucci


O sociólogo da religião não pode continuar pensando que se pode fazer sociologia propriamente dita sem a crítica da "cultura capitalista", que passa pela crítica da economia capitalista.

Quando uma igreja visa à maximização dos lucros e ensina seus quadros a fazerem o mesmo por ela e também para si mesmos, e exorta os conversos e seguidores a fazerem o mesmo, é sinal de que a lógica da esfera econômica colonizou a lógica da esfera religiosa.

Com isso, a religião enfraquece sua principal conquista alcançada com a modernidade, que foi a autonomização das esferas da cultura, como ensinou Max Weber [1881-1961]. Volta atrás na história.

Muitos sociólogos de hoje veem acertadamente a religião como mercado -mercado de bens de salvação-, mas já é mais que isso: há outras metas a alcançar, inclusive as de conteúdo material. No mundo ocidental contemporâneo, isto é, na sociedade secularizada, há grande competição entre diferentes religiões, e o crescimento de umas e outras depende do declínio de pelo menos alguma outra, em número de seguidores, num jogo de soma zero, evidentemente.

Desregulação

A dinamização recente da concorrência entre os diferentes produtores e vendedores religiosos -diferentes religiões, igrejas e outros grupos de culto institucionalizados- pode ser entendida como consequência histórica e em linha direta da desregulação republicana da esfera religiosa. Sobretudo na América Latina, tal processo significa a perda pelo catolicismo de sua reserva de mercado. Acabou-se o monopólio católico.

Com a possibilidade assim aberta de ativação acrescida de seus agentes num mercado religioso desmonopolizado, foram sendo alcançados pouco a pouco níveis mais exigentes de pluralismo religioso, de demarcação mais nítida da diferença religiosa e, por que não, de conflitividade multidirecional, por conta dos níveis mais altos de envolvimento reflexivo dos próprios agentes religiosos com a ideia mesma de competição religiosa legítima, "natural".

Segue-se a crescente dinamização racionalizada da oferta dos bens de salvação que os profissionais da religião criam ou, cada vez mais, copiam uns dos outros, cuja distribuição reciclada administram sempre de olho na resposta dos muitos adversários.

Cresce mais quem faz melhores ofertas; criar novas necessidades religiosas é imperativo, regra do mercado. Nesse "métier", vale apontar desde já, têm se esmerado os pentecostais e neopentecostais, mas não só. A febre é altamente contagiosa. É toda uma positividade de imagem proativa que termina por granjear mais prestígio e legitimidade social para as religiões ou religiosidades que melhor souberem vender seu peixe.
E, já que liberdade religiosa hoje em dia se pratica em chave de livre-concorrência, todos os profissionais religiosos responsáveis por esse burburinho são os primeiros a dizerem-se interessados (interessados por enquanto, é só o que por enquanto faz sentido) em mais e mais liberdade de crença, culto, expressão, propaganda e marketing. Assim como em mais isenção (quando não evasão) fiscal, "que ninguém é de ferro!".

Lá na frente, os agentes da religião não passam de agentes econômicos, e as igrejas, de empresas. São, agora, também políticos, uma vez que tudo isso acarreta uma crescente necessidade, por parte das igrejas competitivas, de se fazerem representar no Parlamento, às vezes com partido próprio, de onde podem defender seus interesses com a segurança jurídica e econômica costurada na lei, que ajudam a criar ou a rejeitar.

Como resultado da desregulação, o que se tem é essa abundância de profissionais religiosos, que vemos, em inaudito ativismo, a suprir o mercado de novidades religiosas, serviços espirituais, bens simbólicos e os mais variados artigos de consumo, gerando, em decorrência, teores mais altos de participação religiosa na população, que produzem um aquecimento de todo um campo religioso, que se estrutura em moldes análogos aos de um mercado concorrencial.

Resulta que esses empreendedores religiosos aparecem -assim eles se apresentam na vida cotidiana- como se mergulhados até o pescoço numa inadiável disputa por recursos e oportunidades, por mais eficácia e sucesso na atração de novos consumidores e na fidelização dos já atraídos. Precisam, pois, de mais fundos econômicos, mais dinheiro e mais lucro para investir no negócio da religião. 

Sociologia

Do lado dos sociólogos, para falar agora das coisas do sagrado, é necessário passar pela economia da coisa, mergulhada com certeza na cultura capitalista de uma sociedade irremediavelmente secularizada.

Uma sociedade que não precisa mais de Deus para se legitimar, se manter coesa, se governar e dar sentido à vida social, mas que, no âmbito dos indivíduos, consome e paga bem pelos serviços prestados em nome dele.

De modo tão descarado que o princípio de fidelidade dos homens, isto é, dos fiéis para com Deus, que sustentou a civilização judaico-cristã, e também a islâmica, desde as origens, agora tem sua direção invertida por essa nova cristandade que proclama que Deus é fiel, o fiel é Deus. Investimento seguro, vale dizer. 

Fonte: Folha de São Paulo - Caderno Ilustríssima - 17/06/2012 


Antônio Flávio Pierucci foi um sociólogo brasileiro que atuou no campo da sociologia da religião a partir do referencial weberiano. Depois de se especializar em teologia, pela Pontifícia Universidade Gregoriana (1970), graduou-se em filosofia (1973) e obteve os títulos de Mestre em Ciências Sociais (1977, com Igreja Católica e reprodução humana no Brasil), pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP); Doutor em Sociologia (1985, com Democracia, Igreja e Voto: o envolvimento do clero católico nas eleições de 1982) e Livre-docente (2001, com Desencantamento do mundo: os passos do conceito em Max Weber) pela Universidade de São Paulo, onde foi professor titular e chefe do Departamento de Sociologia até o seu falecimento aos 67 anos

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

A fórmula do sucesso

Posted by Sidnei Moura on sexta-feira, setembro 11, 2015 with No comments
Imagem: e-vanzolini


Uma resposta bíblica aos proponentes dum evangelho fast-food


Sidnei Moura

>A procura pelo sucesso 

Você com certeza têm percebido a crescente e até frenética busca pelo sucesso em nossos dias, não é verdade? 

Pois é, vivemos dias em que ser próspero e bem-sucedido na vida profissional, familiar , saúde e sentimental tem sido o maior anseio de uma humanidade que, por causa do pecado original, degradou-se de seu estado inicial quando tudo fora criado de forma perfeita. Ser bem-sucedido na vida, ter prosperidade em todas as áreas de maneira nenhuma será uma desvantagem para um verdadeiro filho de Deus. Porém, como tem sido essa procura pelo sucesso, pela prosperidade e pelo bem estar individual?

>Existem fórmulas para o sucesso?

Vivemos dias trabalhosos, difíceis. No entanto, proponentes de um novo evangelho, antropocêntrico totalmente desvinculado da realidade bíblica de tempos em tempos tem surgido com novas maneiras, novas formas, novas fórmulas, baseadas em “novas revelações” no intuito de “criar atalhos” pra que a prosperidade tão desejada seja alcançada de forma eficaz e num prazo de tempo mais curto do que se realizaria através da dedicação ao trabalho com afinco. E como resultado disso, multidões os aclamam e os reverenciam, lotam seus auditórios e fazem com que os seus índices de audiência subam vertiginosamente em rádios e TVs por todo o mundo. São os novos “apóstolos”, cuja missão, como afirmam alguns, é a de “pregar milagres”, “anunciar a prosperidade”, e proclamar que estes tempos são tempos de sucesso para os que “crêem” em suas mágicas e formulas, que, segundo eles, são “divinas”. No entanto fica a seguinte questão: De fato, existe fórmula para o sucesso? Ou ele é conseqüência de um estilo de vida regrado em princípios e valores?

> O exemplo de Josué

Antes de entrarmos na questão das fórmulas apresentadas pelos Mestres e doutores da prosperidade e do sucesso, analisemos a vida de um homem conhecido na bíblia pelas proezas que realizou, pelo sucesso que alcançou a frente de um povo levando-os a conquistar as promessas de Deus: Josué, filho de Num.Moisés já estava farto de dias, e se fazia necessário ainda muito trabalho para alcançar a Terra prometida. 

Dificuldades ainda eram palpáveis, e, além disso, Deus em seu desígnio já havia determinado que Moisés não os introduziria na Terra prometida. Foi quando Deus escolheu a Josué, um jovem que havia dedicado seu tempo em auxiliar Moisés, e que havia alcançado graça aos olhos do Senhor pelo seu otimismo ao espiar a terra de Canaã, otimismo esse que nascia na confiança do poder de Deus mesmo nas causas mais difíceis.Chega então o momento. Moisés morre e é sepultado pelo Senhor, e Josué inicia uma jornada inimaginável. Deus aparece a ele, animando-o, confirmando a sua eleição para tal ofício, e exortando-lhe a permanecer na posição de acordo com a sua soberana vontade, e lhe propõe as condições que lhe levariam a obter êxito e alcançar os objetivos de tão dura missão, conforme registra a Bíblia em Josué 1:7-9.De forma categórica e resumida, segundo o registro bíblico, poderíamos definir o segredo do sucesso de Josué da seguinte maneira:O sucesso de Josué dependeria da sua confiança em Deus + vontade própria + obediência as normas que Deus estabeleceu em sua Lei. 

Confiar em Deus sempre foi importante para qualquer situação, no entanto Josué deveria fazer a sua parte, animando-se, tendo coragem de lutar e esforçando-se mesmo quando enfrentasse situações desanimadoras. O que cabia a Josué, Deus não faria por ele, e sendo assim, era necessário estar submisso as suas leis, pois elas como verdadeira lâmpada levaria Josué a uma vida ética e abençoada, pois é na palavra do Senhor que encontramos a resposta para todas nossas indagações.Sendo assim, Josué iniciou sua jornada. Segundo o mesmo relato bíblico que acabamos de analisar, uma das promessas que Deus o fez foi a de que “..ninguém se susterá diante de ti todos os dias da sua vida: assim como fui com Moisés serei contigo. Não te deixarei nem te desampararei”.(vs. 5). 

Segundo o relato bíblico, Josué de fato levou a sério as orientações de Deus, sendo vitorioso em suas campanhas. Abriu o Jordão, venceu trinta e um reis e foi capaz de submeter quase toda a terra onde pisou seus pés a Israel, como confirmação de que as orientações de Deus foram suficientes para levá-lo ao pódio dos vencedores (Josué 11:23, 12:24). Josué não precisou de técnicas como as do Novo Pensamento, Pensamento da Possibilidade e da Teologia da Confissão Positiva, do Determinismo, de sessões espirituais em busca de sucesso e descarrego de possíveis encostos negativos e nem das fórmulas para o sucesso, como propõe os mestres de movimentos modernos.

>Fórmulas

As pessoas buscam o sucesso, e nessa busca desesperada, e muitas vezes até histérica, acabam aceitando conselhos que na maioria das vezes não funciona de verdade, e isso não é de se admirar, pois a história de Josué confirma que o sucesso, o êxito, e a prosperidade real está em Deus, e não em fórmulas.Os livros de auto-ajuda, esoterismo e de “faça assim”, que propõem um resultado rápido para aqueles que desejam “atalho” para o sucesso encabeçam as listas de best-sellers por todo o mundo. Pessoalmente, acredito que no caso destes livros, a procura pelos mesmos em livrarias tem se tornado crescente mais pelo simples fato de proporem soluções rápidas, do que de realizações propriamente ditas. As pessoas não os procuram pelo fato de terem apresentado resultados, mais simplesmente por aparentarem solucionar seus problemas. Raramente relacionam a conquista da prosperidade ao trabalho honesto e laboroso. Assim também acontecem com as fórmulas no meio evangélico: seus proponentes as recheiam de aparente relação com a bíblia, citando textos isolados e fora de seus contextos, e aplicando-os segundo a necessidade de seu público. 

Ansiosos pelo progresso, e firmados na aparente autoridade bíblica em que tais formulas parecem se apoiar, embarcam em praticas que simplesmente os levam a acreditar que suas vidas serão mudadas como em um passe de mágica, pelo simples fato de utilizarem estas formulas em sua vida diária.Em 5 de abril de 2001, o jornal de maior expressão a nível mundial, o norte-americano The New York Times, assim como vários outros periódicos e meios de comunicação divulgavam o best-seller do momento nos EUA: um livro sobre oração, com o título A Oração de Jabez*, que de forma sensacional havia ultrapassado outros grandes best-sellers e alcançado o topo. Tratava-se de um livro que trazia a história da oração de um quase desconhecido personagem bíblico, que pelo fato de ter alcançado resposta as suas orações, tornou-se notável. Porém, não se tratava de um livro que tinha a intenção de simplesmente abordar a história de um personagem bíblico, mais de transformar sua oração em uma fórmula de sucesso para todos que orassem como Jabez orou, que o levou a ser publicado em diversos idiomas, inclusive em português.E a febre pegou. Campanhas, simpósios, reuniões, programas e palestras passaram a ser realizadas por todos os lados, com o intuito de demonstrarem a importância de se orar como Jabez orou, a fim de se conseguir o mesmo êxito do personagem supracitado. 

Confesso que em toda minha carreira no evangelho nunca tinha ouvido tantas preleções baseadas na história de Jabez! Com certeza, não foi esta a intenção do autor do texto bíblico, e nem muito menos de Deus, que o inspirou a registrar o fato nas escrituras sagradas. Em nenhum lugar encontramos Deus apresentando fórmulas, nem seus profetas ou apóstolos, muito menos o próprio Cristo. A cada história de oração onde respostas foram obtidas, analise o contexto e chegará a conclusão de que os propósitos de Deus em relação ao fato registrado para exemplo nosso teve como maior propósito mostrar os princípios que os levaram a acontecer, e não simplesmente aos exemplos demonstrados. 

Foi assim com a conhecida oração do Pai Nosso proferida por Cristo. Seus discípulos O consultaram a fim de saberem como orar, e queriam a resposta naquele mesmo instante. Jesus, conhecedor de seus corações palpitantes pelas respostas aos seus mais profundos anseios ensinou-lhes a disciplina da oração e de toda vida cristã através do Pai Nosso, uma oração curta e de palavras simples, porém recheadas dos princípios mais importantes do evangelho. Depois de algum tempo, a igreja deixando a autoridade da palavra de Deus (provavelmente durante a obscura Idade Média), passou a ter a oração do Pai Nosso como um recitativo constante, desconsiderando as palavras do próprio Cristo que diz “E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que por muito falarem serão ouvidos”. (Mateus 6:7).

Quando nos utilizamos de fórmulas, estamos de forma declarada fazendo exatamente o contrario do que seus próprios proponentes apresentam, pois se a fórmula do sucesso é uma atitude de fé, por que fazer da mesma uso constante? Em outras palavras, os propositores das formulas do sucesso contradizem a si mesmos.Acima de tudo, precisamos nos convencer de que as fórmulas são uma verdadeira demonstração de falta de confiança nos eternos princípios divinos. Jesus não afirmou que os gentios achavam que por muito falarem seriam ouvidos? Ora, Deus é poderoso para responder as nossas orações mesmo quando elas não são tão perfeitas quanto deveriam ser, pois ainda que não hajam palavras em nossos lábios, o Senhor tudo conhece, afirmou certa vez o salmista. 

Não há nada de errado quando tomamos para nossas vidas os exemplos de homens que alcançaram bom êxito através de suas orações como Salomão ao pedir sabedoria, Josué ao orar pela interrupção da passagem do tempo, e do próprio Jabez, desde que o principio reconhecido e aprendido através de cada um deles seja de que oração sincera gera resposta divina no tempo certo.

>Princípios, e não fórmulas

Voltemos a história de Josué. E lembremo-nos de que não existem fórmulas para o sucesso no âmbito espiritual. A maneira correta, e acima de tudo bíblica é de que Deus deseja que apliquemos nos nossos caminhos durante nossa existência os princípios que ele nos entrega e demonstra em cada exemplo de oração respondida, e em cada conquista realizada pelos seus filhos no passado, a fim de que a cada dia sejamos alcançados pela sua sabedoria e aprendermos com elas com o propósito de que obtenhamos sucesso, êxito e prosperidade para que sejamos abençoados, e que a cada vitória o nome dEle seja glorificado. A Ele o domínio e o poder para sempre!

(Sinopse de mensagem que ministrei na noite do dia 16 de janeiro de 2008, em São Carlos/SP)

* Hank Hanegraaff em seu livro A Oração de Jesus (CPAD) comenta com maiores detalhes e responde com autoridade bíblica a mesma questão que comento neste post. Recomendo leitura.


Sidnei Moura é licenciado em Letras e professor de Língua Portuguesa e literatura. É editor do blog Sidnei Moura, filiado à UBE - União de Blogueiros Evangélicos, e  reside em São Carlos - SP
Facebook     

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Não se contente com sua pregação medíocre

Posted by Sidnei Moura on sexta-feira, julho 10, 2015 with 2 comments

Paul Tripp

Quero examinar um lugar onde há demasiada mediocridade na igreja de Jesus Cristo: a pregação. Por cerca de 40 finais de semana por ano eu estou com alguma parte do corpo de Cristo em algum lugar do mundo. Muitas vezes, não sou capaz de sair no sábado e, por isso, vou assistir ao culto da congregação local (quando não estou programado para pregar). O que estou prestes a dizer provavelmente vai me encrencar, mas estou convencido de que precisa ser dito. Estou triste e angustiado por dizer isso, mas já estou cansado de ouvir palestras teológicas chatas e mal preparadas, dadas por pregadores não inspirados, lendo manuscritos, e tudo isso feito em nome da pregação bíblica.

Não estou surpreso que as mentes das pessoas divaguem. Eu não estou surpreso que as pessoas têm lutado para se manter atentas e despertas. Estou surpreso que mais não têm. Eles têm sido ensinados por alguém que não trouxe as armas apropriadas para o púlpito, a fim de lutar por eles e com eles. A pregação é mais do que regurgitar seu comentário exegético favorito, reformular os sermões de seus pregadores favoritos, ou remodelar as notas de uma de suas aulas favoritas do seminário. É trazer as verdades transformadoras do Evangelho de Jesus Cristo de uma passagem que foi devidamente compreendida, convincentemente e praticamente aplicada, e entregue com a ternura envolvente e a paixão de uma pessoa que foi quebrantada e restaurada pelas verdades que ela irá comunicar. Você simplesmente não pode fazer isso sem a devida preparação, meditação, confissão e adoração.

Simplesmente não dá para você começar a pensar em uma passagem pela primeira vez no sábado à tarde ou à noite e dar o tipo de atenção que ela precisa. Você não será capaz de compreender a passagem, de ser pessoalmente afetado e de estar preparado para dá-la aos outros de uma forma que contribua à contínua transformação deles. Como pastores, temos que lutar pela santidade da pregação, ou ninguém mais o fará. Temos que exigir que os afazeres do nosso trabalho permitam o tempo necessário para se preparar bem. Temos que arranjar tempo em nossas programações para fazer o que for necessário para cada um de nós, considerando nossos dons e nossa maturidade, estejamos preparados como porta-vozes para nosso Rei Salvador. Não podemos acomodar com padrões que denigram a pregação e degradem a nossa capacidade de representar um Deus glorioso de uma graça gloriosa. Não podemos nos permitir estarmos muito ocupados e distraídos. Não podemos estabelecer padrões baixos para nós mesmos e para aqueles a quem servimos. Não podemos nos desculpar e acomodar. Não podemos nos permitir espremer mil reais em preparação em poucos centavos de tempo. Não devemos perder de vista Aquele que é Excelente e a excelente graça que fomos chamados para representar. Não podemos, porque estamos despreparados, deixar Seu esplendor parecer chato e sua maravilhosa graça, ordinária.

A cultura e disciplina que envolve a nossa pregação sempre revelam o verdadeiro caráter de nossos corações. É exatamente aí que a confissão e o arrependimento precisam acontecer. Não podemos culpar as exigências de nosso trabalho ou nossa ocupação. Não podemos apontar o dedo para as coisas inesperadas que aparecem no calendário de cada pastor. Não podemos culpar as demandas da família. Temos que humildemente confessar que a nossa pregação é medíocre e que não está subindo ao patamar para o qual fomos chamados. Nós somos o problema. O problema é que perdemos a nossa admiração, e com essa perda nos acomodamos em apresentar a excelência de Deus de uma forma que não é nada excelente. Qualquer forma de mediocridade no ministério é sempre um problema do coração. Se isso o descreve, então corra ao seu Salvador em humilde confissão e abrace a graça que tem o poder de resgatá-lo de si mesmo, e, ao fazer isso, restaurar a sua admiração.

Fonte: Blog Fiel

sexta-feira, 26 de junho de 2015

A arte na comunicação da mensagem cristã

Posted by Sidnei Moura on sexta-feira, junho 26, 2015 with No comments



Mark Carpenter

Quem pensa que sabe como são os africanos nunca imaginaria que Mia Couto fosse natural do continente negro. O romancista mais celebrado de Moçambique é branco, enche seus livros do realismo mágico da tradição latino-americana e tem um estilo que lembra Guimarães Rosa. Foi contado entre os melhores escritores africanos do século 20.

Em entrevista recente ao Estadão, perguntaram-lhe se há influência brasileira em sua literatura. Respondeu: “Sim. Ela veio justamente da música de Chico, de Caetano. Muitos músicos moçambicanos tinham tentado cantar em português, mas o português duro, rápido, de Portugal, não tinha musicalidade. Aí ouvimos Chico, Caetano, Gil e descobrimos que o português poderia ser outra coisa. Foi uma descoberta.”

Talvez tenha sido crítico demais ao português dos fadistas e trovadores, mas a descoberta de que a língua da mera comunicação corriqueira poderia ser também a língua da poesia e dos sonhos abriu-lhe um novo mundo. Muitos anos mais  tarde, o comitê Nobel também reconheceu que a língua portuguesa possui a maleabilidade necessária para ser talhada por alguém com o talento de José Saramago. Aqueles que se importam com os idiomas enxergam na nossa gramática, nos nossos vocábulos e na nossa sintaxe as ferramentas para criar e perpetuar aquilo que só existe na língua. O português pode ser usado para emocionar, agregar e inspirar.

Como cristãos, temos o privilégio de servir e adorar a um Deus literário. A linguagem da Bíblia evidencia sua preocupação com a arte de expressar-se. Há nela não apenas a Verdade Revelada, mas as múltiplas verdades reveladas por meio de uma riqueza estonteante de poemas, acrósticos, canções, parábolas, paralelismos, hipérboles, metáforas, figuras de linguagem e artifícios da retórica.

Não resta a menor dúvida de que Deus — o Verbo — se relaciona conosco através da Palavra, e que esta palavra tem forma intencional, bela e artística. Leland Ryken afirma que “os escritores da Bíblia e o próprio Jesus Cristo perceberam que é impossível comunicar a verdade de Deus sem usar os recursos da imaginação. A Bíblia faz muito mais que apenas sancionar o uso da arte. Ela demonstra que a arte é indispensável” (The Imagination as a Means of Grace, Communiqué, 2003).

Penso, às vezes, que a linguagem usada em muitas igrejas é como o português “duro e rápido” que Mia Couto ouvia quando criança. É utilitária, descritiva e funcional, mas carece do tipo de imagística e musicalidade que despertam a alma. Como pastores e líderes, concentramo-nos no conteúdo de nossas doutrinas em detrimento de sua forma. Esquecemos que a Bíblia não divide a arte em sacra e secular. Nela, a arte possui valor igual tanto em ambientes de louvor quanto do cotidiano (Nm 21.16-18; Is 16.10; 52.8-9).

Como seria se nossos pastores se importassem tanto com a linguagem quanto se importam Chico, Caetano e Gil, assim também como Davi, Salomão e Jesus? Tenho a impressão que, se a poesia de nossas teologias saturasse as nossas palavras, os muitos Mias Coutos das nossas congregações de repente ouviriam algo diferente, algo novo, capaz de agarrar suas imaginações, inspirar-lhes e enviar-lhes correndo de volta à Palavra, fonte de nossa inspiração.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Especial Dia dos Namorados: O amor nos tempos de Auschwitz

Posted by Sidnei Moura on sexta-feira, junho 12, 2015 with 2 comments



Auschwitz - ícone do Holocausto,
local é visitado por milhares de pessoas todos os anos



O polonês Israel Arbeiter passou cinco anos em poder dos alemães. Sobreviveu ao tifo e se fingiu de morto para não ser executado. Nos campos nazistas, perdeu a família - mas achou a mulher de sua vida

Adriana Maximiliano e Bernardo Weaver

Dentro da fria lógica dos nazistas, que tatuavam números em seus prisioneiros, ele era o A18651. Ela era o A14016. Foi num campo de concentração – Starachowice, na Polônia – que Israel Arbeiter, 81 anos, e Anna Balter, 80, iniciaram uma história de amor que dura até hoje. Ambos judeus e poloneses, eles se conheceram em 1940, enquanto realizavam trabalhos forçados para os alemães. Depois de contrair tifo e sobreviver a uma execução de prisioneiros, Arbeiter ficou escondido no alojamento onde estava sua família. Só não morreu de fome porque Anna, clandestinamente, enviava-lhe pequenas porções de pão.

Em 1942, Arbeiter foi separado da família e de Anna e levado para Auschwitz, também na Polônia. Em 1944, foi transferido para outro campo de concentração, na Alemanha. No ano seguinte, às vésperas da derrota dos nazistas, sobreviveu a uma das “marchas da morte” de Hitler, em que os prisioneiros eram obrigados a andar dias sem descanso ou comida. Fugiu, escondeu-se na floresta e foi achado por tropas aliadas. Ainda em 1945, Arbeiter partiu em busca de Anna. Roubou uma motocicleta, cruzou a Alemanha até o campo de refugiados em que ela estava e a pediu em casamento. Hoje, aos 81 anos, ele se orgulha de dizer que ela é sua “boneca” – usando uma das poucas palavras que sabe em português.

Comerciante aposentado, Arbeiter é presidente e fundador da Associação Americana dos Sobreviventes do Holocausto da Grande Boston. Ele e Anna moram nos Estados Unidos desde 1949, onde tiveram três filhos e três netos. E ainda exibem nos braços as tatuagens com os números. “Não as tiramos porque não queremos esquecer jamais o que passou”, diz Arbeiter, que se esforça para transmitir às próximas gerações as piores lembranças de sua vida. “Daqui a dez, 20 anos, não haverá mais nenhum sobrevivente vivo. Não podemos deixar a história morrer com a gente.”

História – Como era sua vida antes da guerra?

Israel Arbeiter – Nasci em 25 de abril de 1925, numa família de classe média da cidade de Plock, na Polônia. Meu pai era alfaiate. Minha mãe era dona-de-casa e cuidava de mim e dos meus quatro irmãos. Ainda era criança quando comecei a ouvir coisas ruins nas ruas, manifestações anti-semitas, ofensas... Mas não me importava. De repente, quando a guerra irrompeu, ficamos proibidos de sair do país e da cidade. Até andar na rua passou a ser perigoso. Meu pai não queria abandonar tudo e seguir para um lugar desconhecido, correndo o risco de ser morto no caminho. Ele dizia que tínhamos que ficar tranqüilos e continuar perto dos nossos amigos, da comunidade. Até que um dia, no meio da noite, os alemães invadiram nossa casa.

A partir daí, o que aconteceu?

Era inverno, fevereiro de 1940. Eu tinha 14 anos. Acordei com os alemães dentro de casa, avisando que tínhamos cinco minutos para pegar o que quiséssemos e ir para a rua. Fomos levados para um gueto em outra parte da cidade, onde estavam todos os outros judeus de Plock. Era um lugar cheio de casas pobres. Vi meus pais, tios e nossos amigos perderem tudo, inclusive as esperanças, até que um trem de carga levou todo mundo para o campo de trabalho forçado de Starachowice, no leste da Polônia. Lá eu comecei a trabalhar como ajudante dos soldados alemães. Todos os dias, às 7 da manhã, engraxava as botas que eles deixavam fora do alojamento. Depois, eu faxinava e carregava lenha. Também capinava e fazia serviços de manutenção. Eu odiava. Era um garoto de classe média e odiava trabalhar para os algozes do meu povo. Mas não tinha escolha: se não fizesse, morria. A comida que eu recebia em troca do trabalho era um pouco de pão e sopa. Migalhas que mal davam para o meu sustento.

O que o senhor fazia quando não estava trabalhando?

No fim do dia, voltava para o alojamento e ficava com minha família. Todos viviam com muito medo. Foi em Starachowice, ainda em 1940, que conheci uma menina chamada Anna, nascida em 1926, na cidade polonesa de Lodz. Ela era ajudante na cozinha do alojamento alemão e faxineira. Enquanto ela limpava e eu consertava coisas, surgiu entre nós um laço importante.

O senhor esteve perto de morrer?

Depois de um tempo, virei escravo na fábrica de munição. Era muita humilhação, porque aquelas balas estavam servindo para levar adiante uma causa que defendia a morte do meu povo. Trabalhava tanto, tanto, que fiquei doente várias vezes. Quando contraí tifo, tive que ir para um alojamento separado, em quarentena. Lá, se um quarto ficava lotado, os nazistas matavam todos os doentes. Certo dia, o meu encheu. Éramos 68 pessoas. Os soldados vieram à noite e atiraram. Mataram 67. Nenhum tiro me atingiu, mas eu me joguei no chão como se tivesse morrido. Quando mandaram outros judeus recolherem os corpos, pedi ajuda a eles. O chefe do grupo era um policial judeu, o capitão Abraham Wilczek. Esses homens, que tinham a função de policiais no campo de concentração, às vezes eram doces, às vezes eram bárbaros. Eu não sabia o que esperar. O capitão disse que não ia me entregar, mas me mandou de volta para o alojamento do tifo. Com o fio de voz que me sobrava, falei: “Deus me salvou uma vez. Não acredito que vá me salvar de novo. Os alemães vão me matar na próxima vez”. Ele prometeu me ajudar, mas disse que naquele momento eu teria que ficar com os outros doentes para não contaminar os trabalhadores saudáveis.

E ele cumpriu a promessa?

Sim, me curei e ele me tirou do alojamento. Mas eu ainda não tinha forças para trabalhar, então não podia receber comida. Cada vez mais fraco, fiquei escondido no alojamento da minha família. Foi aí que Anna Balter me salvou. Ela começou a contrabandear alimentos: através da cerca em volta do meu alojamento, ela entregava pão para meus irmãos, que o levavam para mim. Graças a Anna eu me recuperei e voltei a trabalhar. Nessa época, continuar vivo era uma conquista. E tudo era tão triste que eu não acreditava que a situação poderia piorar tanto de um dia para outro.

Mas piorou muito...

Sim. O pior momento foi em 1942, quando os nazistas decidiram que a chamada “solução final para a questão dos judeus” era o assassinato em massa. Foi aí que eles resolveram separar minha família. Eu e meu irmão mais velho, Mack, por sermos mais fortes e aptos para o trabalho escravo, ficamos. No dia 26 de outubro, os alemães levaram meus pais, meus tios e meus irmãos mais novos para o campo de concentração de Treblinka. Mataram todos com cianureto numa câmara de gás. Eu fui separado do meu irmão e enviado para Auschwitz.

Como era o campo de Auschwitz?

Olha, se eu ficar dez horas falando, você ainda não vai ter idéia do que era aquele campo de concentração. A lógica daquela instituição é totalmente distinta de qualquer outra coisa vigente no mundo real. É como se fosse uma fábrica ou um banco que, em vez de emprestar dinheiro ou produzir coisas que melhorassem o mundo, apenas produzisse cadáveres. Mortes repetidas, em escala industrial, cujos sobreviventes só se explicam pela necessidade de escravos para manter em funcionamento o aparato nazista. As instalações incluíam cinco câmaras de gás que funcionavam sem parar, durante 24 horas, sete dias por semana. Os prisioneiros também morriam de fome e exaustão ou eram cremados vivos.

Quando o senhor percebeu que sua vida poderia mudar?

Eu continuei fabricando munição por mais dois anos, até que a fábrica começou a ser desativada. A invasão da Polônia pelos russos, no fim de 1944, marcou o início do fim do meu sofrimento. Os alemães queriam esconder de qualquer forma as marcas do que estavam fazendo com meu povo. Fecharam a fábrica e transferiram os judeus para a Alemanha em trens de transporte de gado. Fui para um campo de concentração na cidade de Tailfingen. Lá trabalhei num hangar, fazendo manutenção de aviões. Quando o campo foi bombardeado pelos americanos, em 1945, os alemães mandaram todos os judeus embora, mais uma vez tentando encobrir o massacre. Fomos levados para a chamada “marcha da morte”, nas estradas em direção à Áustria.

Como foi o percurso?

Os soldados alemães nos mandaram andar até o sul do Tirol, na Áustria. Quem sobrevivesse teria que trabalhar como escravo numa mina de sal. Foram três dias e três noites sem água, sem comida, sem parar. Aqueles que caíam eram largados pelo caminho. De repente, veio um ataque aliado e os pelotões alemães que nos escoltavam fugiram. Eu e meus amigos corremos para o mato. Estávamos na Floresta Negra. Ficamos ali por mais alguns dias até que tropas aliadas apareceram e nos salvaram. Os franceses me deram comida, água e abrigo. Perguntei qual era a data e um dos soldados disse: 25 de abril de 1945. Meu aniversário de 20 anos!

E cinco dias depois, em 30 de abril, Hitler se suicidou...

Pois é, a sorte tinha mudado de lado. E a minha ainda ia melhorar muito nos dias seguintes. O exército aliado me mandou para um campo de refugiados de guerra no sul da Alemanha, perto de Stuttgart. Lá a grande maioria era de judeus. Quando nos apresentaram uma lista com as pessoas que estavam em outros campos, meu irmão ainda não aparecia. E eu não sabia o nome completo de Anna. Só tinha o número que os nazistas tatuaram em seu braço, A14016, e o primeiro nome. Descobri que ela estava em Bergen-Belsen, perto de Hannover. Eram mais de 1000 quilômetros de distância de Stuttgart. Resolvi, então, confiscar uma motocicleta de um alemão que estava passando perto do campo. Em dois dias de viagem, cheguei a Bergen-Belsen. Era maio de 1945. Fui lá para dizer: “Obrigado por salvar minha vida”. Eu precisava falar para ela que aquela comida que passava pela grade todas as noites tinha me mantido vivo nos piores momentos.

O senhor estava apaixonado?

Eu não sabia se era paixão ou apenas gratidão. Quando a encontrei, a chamei para um passeio. Era maio, a primavera já começava a desabrochar, e o norte da Alemanha fica muito bonito nessa época. Anna disse que queria ir comigo, mas tinha um pequeno problema: no quarto dela havia apenas um par de sapatos, que ela e mais quatro meninas revezavam entre si. Como não era o dia de Anna usá-los, ela não poderia ir. Eu, que nunca fui de desistir fácil, chamei a menina que tinha direito aos preciosos calçados e lhe dei um dinheirinho para trocar de dia com Anna. Dito e feito. Passeamos de moto e fomos a uma loja de sapatos, onde lhe comprei um par. Alguns dias depois, convenci Anna a ficar no campo em que eu estava, onde as condições de vida eram muito melhores. Meu irmão também tinha sido levado para lá. No dia 26 de agosto de 1946, pedi a mão de Anna em casamento e ela aceitou.

[...]


Visite também o site oficial Israel Arbeiter (em inglês).

quarta-feira, 22 de abril de 2015

O sono da razão: As lições de Goya e a teologia na igreja evangélica brasileira

Posted by Sidnei Moura on quarta-feira, abril 22, 2015 with No comments

O sonho da razão
Luiz Sayão

Francisco de Goya foi um dos grandes expoentes da pintura espanhola. No final do século 18, o pintor romântico fez história ao deixar-nos seu famoso quadro, o Sonho da Razão.  Nele, Goya expressa o que marcou muito a sua existência: o sonho da razão produz monstros. Os anos passam e os contextos se multiplicam, mas as lições de Goya e sua obra ainda nos atingem. 

Não há como negar que nós evangélicos estamos diante do “Sono da Reflexão Teológica”. É o nosso“sono da razão”. É claro que não se deve ingenuamente pensar que um mundo racionalista e iluminista nos traria um mundo melhor. O nosso mundo “civilizado” e “evoluído” tantas vezes comprovou como isso é fatal e desolador. Hoje vemos uma efervescência evangélica no Brasil que impressiona. Alguns até sugerem que em breve metade do país será evangélico. Todavia, o multiforme mundo evangélico precisa amadurecer e crescer na direção certa. Para isso é preciso “despertar o seu bom senso”, é preciso “acordar a razão”. Esse despertamento, que deve ocorrer pela reflexão teológica promovida pela boa literatura na área, é uma necessidade urgente. Afinal, temos vários monstros soltos nos descaminhos evangélicos atuais.

Vamos destacar alguns: 

O monstro do misticismo de grupos que enxergam objetos como capazes de libertar uma energia mágica que resolverá todos os dramas humanos. Como faria bem um pouco de reflexão teológica para quem está nesse caminho! 

O monstro do sectarismo, que solapa a unidade cristã e prejudica o evangelho. Geralmente temos grupos que nunca abriram a mente para refletir sobre o texto bíblico, mas apenas reproduzem uma perspectiva tacanha e limitada da fé e a universalizam ingenuamente. Como isso confunde a cabeça de quem não conhece a Cristo! 

O monstro da beligerância. Como tem sido assustador descobrir a rispidez e a agressividade que permeia certos desencontros de uma comunidade que devia ser marcada pelo amor. Quantos grupos, denominações, linhas de pensamento estão em verdadeira guerra contra outros, e muitas vezes por motivos políticos e de poder. É de chorar. 

O monstro da indiferença que nasce de preocupações irrelevantes, de questões inúteis e até fúteis. Há uma torpe indiferença para com uma sociedade que agoniza sem esperança. É o abandono do sonho do reino e o triunfo do “rei na barriga” que gera desprezo para o que realmente importa. 

Espero que estas poucas linhas nos ajudem a reconhecer nossa ignorância, a estudar mais, a nos humilhar mais diante do Deus tão sábio e a respeitar mais o próximo e a compreender seu universo e a ser menos arrogante. Acorde razão!

Fonte: Revista Vox - edição 1 - 1º trimestre de 2012 - Editora Hagnos



Luiz Sayão é teólogolinguista e hebraísta. Tradutor da Bíblia, professor da área bíblica (Seminário Servo de Cristo e Faculdade Teológica Batista de São Paulo). Produtor e apresentador de programas bíblicos (Rádio Trans Mundial) e pastor da Igreja Batista Nações Unidas.

domingo, 12 de outubro de 2014

Dia das crianças - uma mensagem de resignação, encorajamento e esperança

Posted by Sidnei Moura on domingo, outubro 12, 2014 with No comments




Sidnei Moura

“Os filhos são herança do Senhor, uma recompensa que Ele dá” (Salmos 127:3 – NVI)

Partindo do princípio de que os filhos são herança de Deus aos homens, necessariamente teremos que admitir que o papel dos pais na geração e criação de seus filhos não se configura tão somente como uma tarefa social, mas principalmente como uma missão divina. O âmago dessa missão está exatamente claro nas palavras do salmista, o que nos remete a idéia de administração de bens confiados a nós pelo criador de todas as coisas. Uma missão que possui sua parcela de deleite, mas também de muitos desafios, principalmente nos dias em que estamos vivendo.

É cada vez mais notório o fato de que a missão dos pais na geração e criação, e consequentemente encaminhamento de seus filhos para a vida, quando não reconhecida como tal, quando negligenciada, ou quando colocada como algo desprovido de seu real valor, compromete significativamente o bom desenvolvimento psíquico, emocional e espiritual do indivíduo como pessoa. Com o aumento dos números de gestações indesejadas, fora do casamento, ou dentro de uma estrutura ainda que formalmente constituída porém não bem estruturada, os números de indivíduos com anomalias crescem vertiginosamente, transformando indivíduos em pessoas desprovidas de condições básicas para o bom relacionamento, a aprendizagem, além de uma série de fatores adversos à vida em sociedade.

Como você procede quanto à administração de seus bens materiais? Ou qual seria seu procedimento diante da administração de uma grande fortuna herdada? Administrar vidas, administrar pessoas, administrar seus próprios filhos como herança do Senhor requer muito mais diligência do que na administração de qualquer outro empreendimento. A vida é a principal encarregada em manifestar essa realidade de forma visível aos olhos de todas as pessoas que lhe cercam, assim também como responsável por lhe manifestar o sucesso ou fracasso no cumprimento da missão. Uma missão que deve ser aceita com responsabilidade e diligência.

“... aqueles que conduzem muitos a justiça serão como as estrelas para todo o sempre” (Daniel 12:3 – NVI)

Como professor e mestre dos pequeninos, seu papel de conduzi-los a justiça não se trata de uma posição sem privilégio, pois no contexto da educação e da aprendizagem sua missão se assemelha a dos país (não interprete isso como “transferência de responsabilidade”, ou “troca de papeis”, usei o termo assemelha exatamente para não dizer que os propósitos são os mesmos).

De certa forma, havemos de inferir do texto bíblico em apreço que a comparação bíblica refere-se a um estado de recompensa espiritual, no entanto, seus alunos o terão sempre como “estrela” caso seu ministério ou profissão seja bem-sucedido – você sempre estará em seus pensamentos como modelo a ser seguido, e é exatamente aqui que pesa a responsabilidade, a missão e o caráter de sua individualidade e personalidade!

O trabalho de ensinar, assim como também o da família, é desgastante, árduo, porém recompensador seja no ensino cristão ou secular. Já parou para pensar no futuro de seus pequenos alunos? Você poderá estar preparando um futuro presidente da república, um futuro líder, indivíduos que influenciarão vidas para a justiça com a mesma influência com a qual foram influenciados, e pelo fato de você e eu nunca ter conhecimento prévio do que vem a frente, é momento de investirmos toda nossa força e animo na realização dos propósitos da missão para a qual fomos chamados.

“Eu lhes asseguro que, a não ser que vocês se convertam e se tornem como crianças, jamais entrarão no reino dos céus. Portanto, quem se faz humilde como esta criança, este é o maior no reino dos céus” (Mateus 18:2, 4 - NVI)

No nosso caso específico como adultos, é importante que tenhamos consciência de que é preciso reverter nosso atual modelo – é preciso retomar as características interiores que tínhamos em nossa infância, a fim de que agrademos a Deus, e sirvamos ao próximo com a qualidade devida. É obvio que não me refiro “as coisas de criança” a que se referiu Paulo ao dizer que agora como adulto, já tinha abandonado. Não me refiro a “inconstância” (se bem que a inocência pueril é que transporta o indivíduo a atitudes impensadas nessa faixa etária), mas sim a humildade, a que Cristo se referiu.

Nesse dia das crianças, que possamos experimentar em nossas vidas esse tipo de humildade a qual Cristo propôs como pré-requisito para a entrada no Reino. E não nos esqueçamos da prudência!

Parabéns as nossas crianças, a seus pais e mestres!

Que no cumprimento de sua missão, pais e mestres possam contribuir para a formação de indivíduos preparados para a vida, encaminhados no conhecimento de Deus, a fim de que “... mesmo com o passar dos anos não se desvie dele”.

Sidnei Moura é licenciado em Letras e professor de Língua Portuguesa e literatura. É editor do blog Sidnei Moura, filiado à UBE - União de Blogueiros Evangélicos, e  reside em São Carlos - SP
Facebook: sidnei.moura  |  Twitter: @sidneimoura

+-

(A+) (A-)

Postagens populares nos últimos 7 dias

Postagens mais acessadas

Conexão de amizades

Categorias

abaixo-assinado Aborto ação coletiva Aconselhamento Pastoral Acordo Ortográfico Adoração Africa alegria alerta Altair Germano amor ANAJURE ansiedade Antonio Flávio Pierucci Apologética Arminismo e Calvinimo Arrecadação de Impostos arte artte assuntos atuais Ateísmo atitudes audio-books barbárie Belverede Bíblia Bíblia de Estudo Bibliotecas virtuais biografia Blog do Momento Blogagem Coletiva blogagem profética Blogger Blogosfera Cristã blogueiros Boicote Brasil Cadastro Campanhas Caramuru Afonso Francisco Carla Ribas Carlos Eduardo B. Calvani Carlos Nejar Carlos Roberto Silva Carnaval cartunista cristão casamento cenas da vida CGADB charge Charles Péguy cidadania Cinema Cintia Kaneshigue clamor Como criar e editar um blog? comportamento Comunicados Concurso no blog Concursos conectados em oração Consciência Cristã conscientização Contribuição conversão copa 2014 corporativismo corrupção cosmovisão cristã CPAD CPAD News Creative Commons crianças crianças desaparecidas crime criminalidade Cristofobia Culto de Missões debate Denúncias dependência de Deus Desafiando Limites Desaparecidos Desarmamento Desastres Naturais Descriminalização da maconha Deus. devocional Dia da Bíblia dia da mulher Dia das Mães Dia de Missões Dia dos Namorados Dia dos Pais Dicas dinheiro direitos humanos discurso Divulgação Domingo da Igreja Perseguida dons espirituais downloads Dr. Luis Pianowski Drogas DVD e-book EBD Ecologia e Natureza Editorial educação Eleições Eleições 2014 Eliseu Antonio Gomes ENBLOGUE Enquete ensino Entrevistas Escatologia Escola Dominical Escrita Esdras Costa Bentho Esperança Esportes estatísticas Estudos Etica Etica no Blogar Evangelho Evangelismo Evento exegese bíblica Facebook Família família Cristã Felipe M Nascimento ficção cristã Fidelidade e Infidelidade conjugal filhos filme Filosofia fim do mundo formação de opinião frases e citações Frida Vingren futebol Game Geisa Iwamoto Genivaldo Tavares de Melo George Soros Geremias do Couto Geziel Gomes gif Google Friend Connect Google Plus (G+) governo Graça Guerra Cultural Gutierres Siqueira Haiti Hinários História Holocausto homilética HQ Humor idosos igreja Igreja Perseguida Imagens Cristãs inspiração Integridade Moral e Espiritual Intelectualidade Interatividade intercessão internet Internet Evangélica intolerância Islamofobia Izaldil Tavares de Castro J.T.Parreira Jairo de Oliveira Japão jejum Jesus: O Homem Perfeito Jesus. João Cruzué jogos eletrônicos Johann Sebastian Bach José Wellington Bezerra da Costa Judeus judiciário Júlio Severo Jurgen Moltmann justiça juventude Kelem Gaspar legislação LGBTS liberdade de expressão liberdade de imprensa lição de vida Lições Bíblicas Adulto Lições Bíblicas Jovens liderança literatura livro digital Livros Louvor Lucas Santos Luis Ribeiro Luiz Sayão maconha Magno Malta manifestações copa manisfestação Mantenedores UBE Blogs Manual da UBE Marco Feliciano maridos Marina Silva Mark Carpenter Marl Virkler Marta Suplicy Martinho Lutero mártires Maya Felix Meios de comunicação mensagem mentira Missão Missão Integral missiologia missões morte Motivação mulheres música namoro Natal Nazismo Nietzsche Notícias objetivos opinião oração orientação Orkut ortodoxia Pablo Massolar papel de parede parábola páscoa passatempos pastores Paul Tripp Paul Washer pecado pecaminosidade pena de morte perdão Perseguição política Perseguição religiosa Pinterest PL 122/2006 Plágio planejamento planejar PNDH - 3 poder de Deus Poesia polêmicas Política Pornografia portas abertas Português pregação e pregadores Primavera de Sara profecia profecias maias profeta Promoção Protestantes protesto Rankings Recursos Redes Sociais Reflexão Reforma Protestante remissão Repúdio ressurreição Retrospectiva Revista AMPLITUDE Revista Cristã REVISTA FORBES Robin Willians Ronaldo Côrrea sabedoria Sammis Reachers Saúde Pública SBB Selos Senado Federal SENAMI Sentido da vida Sidnei Moura Silas Daniel Silas Malafaia sociologia Sorteios Stanley Jones STF suborno super-crente Teatro Tecnologias Televisão Templates teologia Teologia Brasileira teologia da prosperidade testemunho Tim Keller trabalho escravo tradução Tráfico Humano tráfico sexual tragédias tribulações triunfalismo tutoriais Twitter UBE UBE 2007 UBE 2008 UBE 2009 UBE 2010 UBE 2011 UBE 2012 UBE 2013 UBE 2014 UBE 2015 UBE 2016 UBE 2017 UBE 2021 UBE NA MÍDIA UBEbooks UOL utilidade pública Uziel Santana vaidade Valmir Nascimento Milomen viagem missionária vício Victor Leonardo Vida Cristã vida eterna vida real vídeo Viktor Frankl VINACC Vinicius Pimentel voto voto evangélico Wagner Santos Wallace Sousa wallpaper Wellykem Marinho Wesleianismo Wilma Rejane Wordpress Yosef Nadarkhani Zip Net