O sonho da razão |
Luiz Sayão
Francisco de Goya foi um dos grandes expoentes da pintura espanhola. No final do século 18, o pintor romântico fez história ao deixar-nos seu famoso quadro, o Sonho da Razão. Nele, Goya expressa o que marcou muito a sua existência: o sonho da razão produz monstros. Os anos passam e os contextos se multiplicam, mas as lições de Goya e sua obra ainda nos atingem.
Não há como negar que nós evangélicos estamos diante do “Sono da Reflexão Teológica”. É o nosso“sono da razão”. É claro que não se deve ingenuamente pensar que um mundo racionalista e iluminista nos traria um mundo melhor. O nosso mundo “civilizado” e “evoluído” tantas vezes comprovou como isso é fatal e desolador. Hoje vemos uma efervescência evangélica no Brasil que impressiona. Alguns até sugerem que em breve metade do país será evangélico. Todavia, o multiforme mundo evangélico precisa amadurecer e crescer na direção certa. Para isso é preciso “despertar o seu bom senso”, é preciso “acordar a razão”. Esse despertamento, que deve ocorrer pela reflexão teológica promovida pela boa literatura na área, é uma necessidade urgente. Afinal, temos vários monstros soltos nos descaminhos evangélicos atuais.
Vamos destacar alguns:
O monstro do misticismo de grupos que enxergam objetos como capazes de libertar uma energia mágica que resolverá todos os dramas humanos. Como faria bem um pouco de reflexão teológica para quem está nesse caminho!
O monstro do sectarismo, que solapa a unidade cristã e prejudica o evangelho. Geralmente temos grupos que nunca abriram a mente para refletir sobre o texto bíblico, mas apenas reproduzem uma perspectiva tacanha e limitada da fé e a universalizam ingenuamente. Como isso confunde a cabeça de quem não conhece a Cristo!
O monstro da beligerância. Como tem sido assustador descobrir a rispidez e a agressividade que permeia certos desencontros de uma comunidade que devia ser marcada pelo amor. Quantos grupos, denominações, linhas de pensamento estão em verdadeira guerra contra outros, e muitas vezes por motivos políticos e de poder. É de chorar.
O monstro da indiferença que nasce de preocupações irrelevantes, de questões inúteis e até fúteis. Há uma torpe indiferença para com uma sociedade que agoniza sem esperança. É o abandono do sonho do reino e o triunfo do “rei na barriga” que gera desprezo para o que realmente importa.
Espero que estas poucas linhas nos ajudem a reconhecer nossa ignorância, a estudar mais, a nos humilhar mais diante do Deus tão sábio e a respeitar mais o próximo e a compreender seu universo e a ser menos arrogante. Acorde razão!
Fonte: Revista Vox - edição 1 - 1º trimestre de 2012 - Editora Hagnos
Luiz Sayão é teólogo, linguista e hebraísta. Tradutor da Bíblia, professor da área bíblica (Seminário Servo de Cristo e Faculdade Teológica Batista de São Paulo). Produtor e apresentador de programas bíblicos (Rádio Trans Mundial) e pastor da Igreja Batista Nações Unidas.
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