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O país do futebol e o paraíso dos corruptos - Um Desabafo
AVISO: este é um texto de desabafo que postei no facebook, que ficou muito longo para uma rede social, mas que resolvi perpetuar aqui, com algumas edições e correções.
Talvez você provavelmente nem vai querer ler até o fim. Então, vá ver o jogo e a vida segue, afinal o país está uma maravilha e temos Copa, pra que coisa melhor?
Ok, agora vamos falar para quem não está satisfeito com a situação e quer ouvir uma opinião diferente do Galvão Bueno revoltado com a joelhada nas costas do queridinho dele.
E sabe por que eu escrevo estas linhas? Por que eu perco tempo falando para ouvidos moucos de brasileiros que gritam pelo gol mas não ouvem os gemidos dos feridos de tragédias cotidianas?
Quer saber mesmo por quê?
Porque essa realidade brasileira precisa mudar, de a lesão de uma jogador causar mais comoção do que o desabamento de um viaduto sobre pessoas inocentes, esmagando sonhos e ceifando o futuro de famílias inteiras.
Crédito da imagem: Facebook
Se o Brasil fosse um país sério, isso não seria sequer tolerado.
Onde estão aqueles que cantam "sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor..." diante de uma situação assim?
O Brasil real vive fora das 4 linhas, e é lá onde as coisas que importam acontecem, onde as pessoas sofrem, e onde as mudanças realmente necessárias devem acontecer e se deve lutar para que ocorram.
Neymar, depois de 6 semanas, vai voltar a correr e ganhar seus milhões, e as famílias que tiveram seus integrantes esmagados pelo viaduto, o que será delas?
Fico revoltado com esse descaso com o que realmente importa e com essa inversão de valores absurda e nojenta que contaminou a mente das pessoas, inclusive algumas pessoas de bem.
Eu não torço pra seleção, eu tenho vergonha. Não dos jogadores, que estão suando a camisa, fazendo seu papel, se doando em campo por um ideal, mas a vergonha é da CBF, da FIFA, dos políticos e da massa alienada que os elege e gera esse tipo de situação que joga o Brasil no rabo da fila de países civilizados e que usam a meritocracia da forma correta.
Se o Brasil perder pra Alemanha - e torço pra que perca, mas independente de minha torcida, as chances de perder são grandes, com as ausências de Thiago Silva e Neymar - gostaria de ver as pessoas refletindo sobre o que querem pro futuro do nosso país.
Se o que querem e o que lhes satisfaz é apenas mais uma estrela na camisa da seleção, então não há porque reclamar da corrupção, dos desvios de verbas, das compras de votos, das obras malfeitas, dos hospitais sucateados, de pessoas sendo assaltadas em plena luz do dia, dos assassinatos de inocentes e de presos condenados recebendo tratamento melhor do que doentes nos corredores lotados de enfermarias abandonadas pelo poder público.
Se é apenas mais uma estrela que os brasileiros querem, então que não reclamemos mais das outras mazelas do país, porque os corruptos que estão no poder representam muito bem a massa que os coloca lá.
Brasileiros, meus compatriotas, sofredores comigo, tenham atitude e se querem mudança, fiquem indignados com o que realmente importa: que chorem pelas mortes dos inocentes, e não porque um jogador ficou de fora de uma competição; que lutem por seu país como torcem por seus times; e que se revoltem com a corrupção, e não apenas com o juiz anulando gol de sua seleção ou não marcando o impedimento do adversário.
Crédito da imagem: arquivo pessoal
Estou cansado. Cansado de falar e não ser ouvido, cansado de falar e ser taxado de antipatriota, de isso, de aquilo outro, quando o que quero é só um país mais justo, menos desigual e com menos sofrimento para quem mais precisa de atenção.
Desculpe o desabafo, mas ser um crítico da corrupção no Brasil não traz fama - e nem quero - nem dinheiro e nem tapinha nas costas. Traz é muita crítica, encheção de saco e pessoas falando de você pelas costas, ao pé do ouvido, à boca pequena.
Ser contra a corrupção neste país é lutar uma luta inglória contra poderosos e endinheirados que não se cansam de encher os bolsos com recursos desviados de merenda escolar, do esparadrapo dos postos de saúde, da folha de papel sulfite para imprimir um boletim de ocorrência de um furto ou assalto.
Eu choro de dor pelo meu país, principalmente porque eles são roubados, massacrados, esmagados - às vezes literalmente - alguns são queimados em ônibus, mas a massa manipulada fecha os olhos pra eles enquanto grita "GOL" para pessoas que ganham seus milhões para correr uma hora e meia atrás de uma esfera brilhante de couro.
Brasil, você tem tanto potencial, seu povo é tão hospitaleiro e amigável que até quem te visita se espanta, você não tem terremotos, maremotos, vulcões, furacões ou tornados, tem tanta riqueza natural, então por que você não sai dessa situação tão deprimente?
Já estive nos Estados Unidos, e é tão difícil você ver um país onde as coisas funcionam só porque a corrupção não é abertamente tolerada lá, enquanto aqui é incentivada, aplaudida e premiada. O Brasil poderia ser uma das maiores nações do mundo se em vez de tolerar combatesse de forma séria a corrupção.
Também estive na África, onde a corrupção é ainda pior do que no Brasil, e lá vi coisas de me deixaram tão triste que, às vezes, me segurava para não chorar diante de pessoas desconhecidas e que não entendiam minha língua, quanto mais entender as razões de minhas lágrimas.
Mas, vou parando por aqui, o jogo já começou, você vai lá torcer, contra ou a favor, não importa, se emocionar e, claro, gritar até ficar rouco. E eu? Eu vou ali chorar baixinho pelo grande desastre que é morar em um país abençoado com tantas riquezas mas amaldiçoado por tanta corrupção que, se eu pudesse, daria minha vida para que o Brasil deixasse de ser um paraíso para os corruptos.
Crédito da imagem: arquivo pessoal
Ninguém mais está lendo, começou a tocar o hino e logo, logo, vem o grito de gol.
Brasil, não mostre tua cara, não agora, antes da Copa terminar, porque a vergonha que você precisa para alimentar a atitude que não tem, já faz mais de 500 anos que ela não chega.
Wallace, um brasileiro indignado.
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