Imagem: e-vanzolini |
Uma resposta bíblica aos proponentes dum evangelho fast-food
Sidnei Moura
>A procura pelo sucesso
Você com certeza têm percebido a crescente e até frenética busca pelo sucesso em nossos dias, não é verdade?
Pois é, vivemos dias em que ser próspero e bem-sucedido na vida profissional, familiar , saúde e sentimental tem sido o maior anseio de uma humanidade que, por causa do pecado original, degradou-se de seu estado inicial quando tudo fora criado de forma perfeita. Ser bem-sucedido na vida, ter prosperidade em todas as áreas de maneira nenhuma será uma desvantagem para um verdadeiro filho de Deus. Porém, como tem sido essa procura pelo sucesso, pela prosperidade e pelo bem estar individual?
>Existem fórmulas para o sucesso?
Vivemos dias trabalhosos, difíceis. No entanto, proponentes de um novo evangelho, antropocêntrico totalmente desvinculado da realidade bíblica de tempos em tempos tem surgido com novas maneiras, novas formas, novas fórmulas, baseadas em “novas revelações” no intuito de “criar atalhos” pra que a prosperidade tão desejada seja alcançada de forma eficaz e num prazo de tempo mais curto do que se realizaria através da dedicação ao trabalho com afinco. E como resultado disso, multidões os aclamam e os reverenciam, lotam seus auditórios e fazem com que os seus índices de audiência subam vertiginosamente em rádios e TVs por todo o mundo. São os novos “apóstolos”, cuja missão, como afirmam alguns, é a de “pregar milagres”, “anunciar a prosperidade”, e proclamar que estes tempos são tempos de sucesso para os que “crêem” em suas mágicas e formulas, que, segundo eles, são “divinas”. No entanto fica a seguinte questão: De fato, existe fórmula para o sucesso? Ou ele é conseqüência de um estilo de vida regrado em princípios e valores?
> O exemplo de Josué
Antes de entrarmos na questão das fórmulas apresentadas pelos Mestres e doutores da prosperidade e do sucesso, analisemos a vida de um homem conhecido na bíblia pelas proezas que realizou, pelo sucesso que alcançou a frente de um povo levando-os a conquistar as promessas de Deus: Josué, filho de Num.Moisés já estava farto de dias, e se fazia necessário ainda muito trabalho para alcançar a Terra prometida.
Dificuldades ainda eram palpáveis, e, além disso, Deus em seu desígnio já havia determinado que Moisés não os introduziria na Terra prometida. Foi quando Deus escolheu a Josué, um jovem que havia dedicado seu tempo em auxiliar Moisés, e que havia alcançado graça aos olhos do Senhor pelo seu otimismo ao espiar a terra de Canaã, otimismo esse que nascia na confiança do poder de Deus mesmo nas causas mais difíceis.Chega então o momento. Moisés morre e é sepultado pelo Senhor, e Josué inicia uma jornada inimaginável. Deus aparece a ele, animando-o, confirmando a sua eleição para tal ofício, e exortando-lhe a permanecer na posição de acordo com a sua soberana vontade, e lhe propõe as condições que lhe levariam a obter êxito e alcançar os objetivos de tão dura missão, conforme registra a Bíblia em Josué 1:7-9.De forma categórica e resumida, segundo o registro bíblico, poderíamos definir o segredo do sucesso de Josué da seguinte maneira:O sucesso de Josué dependeria da sua confiança em Deus + vontade própria + obediência as normas que Deus estabeleceu em sua Lei.
Confiar em Deus sempre foi importante para qualquer situação, no entanto Josué deveria fazer a sua parte, animando-se, tendo coragem de lutar e esforçando-se mesmo quando enfrentasse situações desanimadoras. O que cabia a Josué, Deus não faria por ele, e sendo assim, era necessário estar submisso as suas leis, pois elas como verdadeira lâmpada levaria Josué a uma vida ética e abençoada, pois é na palavra do Senhor que encontramos a resposta para todas nossas indagações.Sendo assim, Josué iniciou sua jornada. Segundo o mesmo relato bíblico que acabamos de analisar, uma das promessas que Deus o fez foi a de que “..ninguém se susterá diante de ti todos os dias da sua vida: assim como fui com Moisés serei contigo. Não te deixarei nem te desampararei”.(vs. 5).
Segundo o relato bíblico, Josué de fato levou a sério as orientações de Deus, sendo vitorioso em suas campanhas. Abriu o Jordão, venceu trinta e um reis e foi capaz de submeter quase toda a terra onde pisou seus pés a Israel, como confirmação de que as orientações de Deus foram suficientes para levá-lo ao pódio dos vencedores (Josué 11:23, 12:24). Josué não precisou de técnicas como as do Novo Pensamento, Pensamento da Possibilidade e da Teologia da Confissão Positiva, do Determinismo, de sessões espirituais em busca de sucesso e descarrego de possíveis encostos negativos e nem das fórmulas para o sucesso, como propõe os mestres de movimentos modernos.
>Fórmulas
As pessoas buscam o sucesso, e nessa busca desesperada, e muitas vezes até histérica, acabam aceitando conselhos que na maioria das vezes não funciona de verdade, e isso não é de se admirar, pois a história de Josué confirma que o sucesso, o êxito, e a prosperidade real está em Deus, e não em fórmulas.Os livros de auto-ajuda, esoterismo e de “faça assim”, que propõem um resultado rápido para aqueles que desejam “atalho” para o sucesso encabeçam as listas de best-sellers por todo o mundo. Pessoalmente, acredito que no caso destes livros, a procura pelos mesmos em livrarias tem se tornado crescente mais pelo simples fato de proporem soluções rápidas, do que de realizações propriamente ditas. As pessoas não os procuram pelo fato de terem apresentado resultados, mais simplesmente por aparentarem solucionar seus problemas. Raramente relacionam a conquista da prosperidade ao trabalho honesto e laboroso. Assim também acontecem com as fórmulas no meio evangélico: seus proponentes as recheiam de aparente relação com a bíblia, citando textos isolados e fora de seus contextos, e aplicando-os segundo a necessidade de seu público.
Ansiosos pelo progresso, e firmados na aparente autoridade bíblica em que tais formulas parecem se apoiar, embarcam em praticas que simplesmente os levam a acreditar que suas vidas serão mudadas como em um passe de mágica, pelo simples fato de utilizarem estas formulas em sua vida diária.Em 5 de abril de 2001, o jornal de maior expressão a nível mundial, o norte-americano The New York Times, assim como vários outros periódicos e meios de comunicação divulgavam o best-seller do momento nos EUA: um livro sobre oração, com o título A Oração de Jabez*, que de forma sensacional havia ultrapassado outros grandes best-sellers e alcançado o topo. Tratava-se de um livro que trazia a história da oração de um quase desconhecido personagem bíblico, que pelo fato de ter alcançado resposta as suas orações, tornou-se notável. Porém, não se tratava de um livro que tinha a intenção de simplesmente abordar a história de um personagem bíblico, mais de transformar sua oração em uma fórmula de sucesso para todos que orassem como Jabez orou, que o levou a ser publicado em diversos idiomas, inclusive em português.E a febre pegou. Campanhas, simpósios, reuniões, programas e palestras passaram a ser realizadas por todos os lados, com o intuito de demonstrarem a importância de se orar como Jabez orou, a fim de se conseguir o mesmo êxito do personagem supracitado.
Confesso que em toda minha carreira no evangelho nunca tinha ouvido tantas preleções baseadas na história de Jabez! Com certeza, não foi esta a intenção do autor do texto bíblico, e nem muito menos de Deus, que o inspirou a registrar o fato nas escrituras sagradas. Em nenhum lugar encontramos Deus apresentando fórmulas, nem seus profetas ou apóstolos, muito menos o próprio Cristo. A cada história de oração onde respostas foram obtidas, analise o contexto e chegará a conclusão de que os propósitos de Deus em relação ao fato registrado para exemplo nosso teve como maior propósito mostrar os princípios que os levaram a acontecer, e não simplesmente aos exemplos demonstrados.
Foi assim com a conhecida oração do Pai Nosso proferida por Cristo. Seus discípulos O consultaram a fim de saberem como orar, e queriam a resposta naquele mesmo instante. Jesus, conhecedor de seus corações palpitantes pelas respostas aos seus mais profundos anseios ensinou-lhes a disciplina da oração e de toda vida cristã através do Pai Nosso, uma oração curta e de palavras simples, porém recheadas dos princípios mais importantes do evangelho. Depois de algum tempo, a igreja deixando a autoridade da palavra de Deus (provavelmente durante a obscura Idade Média), passou a ter a oração do Pai Nosso como um recitativo constante, desconsiderando as palavras do próprio Cristo que diz “E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que por muito falarem serão ouvidos”. (Mateus 6:7).
Quando nos utilizamos de fórmulas, estamos de forma declarada fazendo exatamente o contrario do que seus próprios proponentes apresentam, pois se a fórmula do sucesso é uma atitude de fé, por que fazer da mesma uso constante? Em outras palavras, os propositores das formulas do sucesso contradizem a si mesmos.Acima de tudo, precisamos nos convencer de que as fórmulas são uma verdadeira demonstração de falta de confiança nos eternos princípios divinos. Jesus não afirmou que os gentios achavam que por muito falarem seriam ouvidos? Ora, Deus é poderoso para responder as nossas orações mesmo quando elas não são tão perfeitas quanto deveriam ser, pois ainda que não hajam palavras em nossos lábios, o Senhor tudo conhece, afirmou certa vez o salmista.
Não há nada de errado quando tomamos para nossas vidas os exemplos de homens que alcançaram bom êxito através de suas orações como Salomão ao pedir sabedoria, Josué ao orar pela interrupção da passagem do tempo, e do próprio Jabez, desde que o principio reconhecido e aprendido através de cada um deles seja de que oração sincera gera resposta divina no tempo certo.
>Princípios, e não fórmulas
Voltemos a história de Josué. E lembremo-nos de que não existem fórmulas para o sucesso no âmbito espiritual. A maneira correta, e acima de tudo bíblica é de que Deus deseja que apliquemos nos nossos caminhos durante nossa existência os princípios que ele nos entrega e demonstra em cada exemplo de oração respondida, e em cada conquista realizada pelos seus filhos no passado, a fim de que a cada dia sejamos alcançados pela sua sabedoria e aprendermos com elas com o propósito de que obtenhamos sucesso, êxito e prosperidade para que sejamos abençoados, e que a cada vitória o nome dEle seja glorificado. A Ele o domínio e o poder para sempre!
(Sinopse de mensagem que ministrei na noite do dia 16 de janeiro de 2008, em São Carlos/SP)
* Hank Hanegraaff em seu livro A Oração de Jesus (CPAD) comenta com maiores detalhes e responde com autoridade bíblica a mesma questão que comento neste post. Recomendo leitura.
Sidnei Moura é licenciado em Letras e professor de Língua Portuguesa e literatura. É editor do blog Sidnei Moura, filiado à UBE - União de Blogueiros Evangélicos, e reside em São Carlos - SP
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