Maya Felix
Sempre quis escrever um texto que relacionasse aborto e adoção, porque penso que essas são duas faces da mesma moeda. É quase unanimidade, entre os cristãos, a luta contra a prática assassina do aborto. Essa luta, que se dá no campo das ideias e da pressão política, é correta e necessária. Organizações internacionais, como a Fundação Ford, financiam ONGs ditas feministas a fim de pressionar governos e convencer a população de que o aborto é necessário para afirmar a liberdade das mulheres em relação a seu próprio corpo. Obviamente, não levam minimamente em conta a verdade de que o feto abortado é um outro corpo, cuja vida começa na concepção. Os cristãos, dentro da visão bíblica, sabem que Deus conhece o ser humano mesmo antes de ele ser gerado. A defesa da vida sempre foi preponderante para os cristãos, em todas as épocas.
Evitado o aborto, resta-nos saber o que temos em mente para continuar a defender a vida que foi salva da morte ainda no ventre da mãe. A mulher que quer fazer um aborto evidentemente não deseja seu filho. Uma vez evitado o aborto, e nascida a criança, a questão que se coloca é: qual futuro se apresenta para essa criança? Muitas mulheres abandonam seus filhos logo após o parto. Recolhidas a orfanatos, crianças salvas da morte passam a aguardar a integração a uma família, mediante a adoção. Muitas chegam aos orfanatos aos dois, três, quatro, dez anos. Algumas passam sua adolescência ali. Outras vivem nesses lugares até os 18 anos. Muitas nunca souberam o que é uma família.
Contudo,
o plano de Deus para o ser humano, e isso está muito claro na
Bíblia, é que ele cresça em uma família que mimetize o cuidado e
o amor de Deus em sua vida. O aborto frustra o desejo de Deus para o
homem, como todo pecado. A rejeição parental atua no sentido de
desestruturar a ideia familiar concebida por Deus. Crianças salvas
do aborto devem ter famílias amorosas que as acolham. Por essa
lógica, o cristão que é contra o aborto deve ser fervorosamente a
favor da adoção, certo? Errado.
Em
nossas igrejas, vemos pouquíssimas famílias que adotam. A adoção
é vista como um tapa-buracos quando um casal não pode gerar filhos.
Crianças adotadas são vistas, em geral, como filhos de segunda
categoria, por não terem recebido a herança genética de seus pais
adotivos. Há muitos argumentos usados contra a adoção, mas o mais
comum é o genético: todos temem adotar uma criança cujos pais
biológicos tenham lhe passado genes de doenças físicas e mentais
graves, como a psicopatia e a dependência de drogas, como se filhos
biológicos não tivessem defeitos nem dessem trabalho a seus pais.
Outra ideia muito difundida contra a adoção relaciona-se aos
traumas psicológicos que uma criança que já foi abandonada
eventualmente teria. Mas não acreditamos que o amor pode curar todos
os traumas e restaurar o coração humano? O argumento financeiro,
sobretudo para casais que já têm filhos, também é frequente. Na
verdade, qualquer argumento é útil quando não queremos fazer
alguma coisa.
As
igrejas cristãs deveriam ser os lugares com o maior número de
crianças adotadas em todo o mundo. É o próprio Deus que nos ordena
amar e proteger os órfãos. Lembro-me de que quando fui à República
Dominicana, há alguns anos, fiquei impressionada com o projeto da
igreja de que uma amiga e seu marido eram membros, em Santo Domingo.
Nos fundos da Igreja, numa grande casa que estava sendo ampliada,
moravam dezenas de crianças retiradas da rua, antes abandonadas, sem
pais, sem ninguém. Ali havia crianças de todas as idades, brancas,
negras, com Síndrome de Down, marcas de maus tratos e outros
problemas. A pastora da igreja, num momento iluminado pelo Espírito
Santo, havia decidido adotá-las. Elas não estavam “disponíveis”
para adoção: elas eram da igreja, que provia alimentação,
higiene, cuidados médicos, educação. Grande parte dos recursos
financeiros daquela congregação ia para o Hogar Villa Bendicion,
nome dado à casa. Esse foi um dos trabalhos mais lindos e tocantes
que já vi em toda a minha vida, e jamais soube de projeto semelhante
no Brasil. Muitas igrejas preocupam-se em colocar piso de mármore e
bancos de luxo em seus magníficos templos, enquanto poderiam
investir recursos em crianças órfãs e honrar muito mais, desta
forma, a Palavra de Deus, alegrando verdadeiramente o coração do
Pai.
A
defesa da vida não se resume à luta antiaborto. Sem dúvida, começa
por ela. Mas continua quando a criança nasce, pois vida não se
resume a gestação e nascimento. Uma criança precisa de uma
família, de estabilidade, de amor. Não temos, meus irmãos, o que
oferecer? Deus não nos deu exemplo maior, sacrificando seu filho
unigênito – o único de fato gerado por Ele – para poder fazer
de nós filhos adotados?
Puxa, eu gostaria de ter escrito isso! Com uma única frase é exposta a hipocrisia de quantos cristãos somos, de todas as denominações deste Brasil: "As igrejas cristãs deveriam ser os lugares com o maior número de crianças adotadas em todo o mundo." Sim, isso é sobre mim e sobre cada um que se p(r)ost(r)a à sombra da Cruz...
ResponderExcluirLembrei do casal Garotinho, que, independente de tudo, adotou mais de 20 filhos. Ou da Flor-de-Lis, com número ainda maior. Eles pelo menos entenderam e cumpriram a mensagem clara do Senhor.
Puxa, Sammis, obrigada por seu comentário!
ResponderExcluirEm linhas gerais, professora, eu gostei de seu texto. Acredito que, sim, a família é muito importante para a construção moral e social de uma pessoa. Infelizmente, menores de rua e abandonados é uma realidade de séculos no Brasil, e é triste pensar em crianças institucionalizadas em orfanatos, apesar de que esse é um destino melhor do que a rua e as drogas. Quanto ao aborto, acredito que, de modo geral, a sociedade desaprove esse ação. Basta ver que temas como aborto e células tronco são evitados pelos parlamentares do Congresso; não porque são bonzinhos, mas porque eles têm muito medo da opinião pública. Na verdade, temas como esse estão presentes no Judiciário, já que é no STF que esses temas que dizem mais respeito à sociedade são votados, e isso vai de acordo com a consciência de cada juiz. Olavo.
ResponderExcluirSabes Maya , as razões dos que combatem o aborto mas não abraçam a adoção infantil, você o disse de uma maneira elegante, e pelo que sintetizei quanto ao primeiro é fácil falar e ao segundo difícil fazer.
ResponderExcluirObrigada por ter lido, Olavo! :)
ResponderExcluirOi, Paulo,
ResponderExcluirObrigada pelo seu comentário. Creio que na vida cristã é sempre mais difícil fazer. Falar é realmente fácil.
:) Obrigada por seu comentário.
Sempre tive o desejo de adotar uma criança, e confesso que este desejo vem se arrefecendo nos últimos anos, até mesmo porque em breve chega minha primeira filha.
ResponderExcluirAcredito que você tenha tocado num ponto crucial Maya, e como diziam por aí, "se os pais não cuidam, os bandidos o farão". Imagino aqueles que, de fato, não têm os pais para cuidá-los e amá-los.
Interessante o trabalho citado no texto. Acredito que muitas igrejas poderiam fazer trabalhos similares, mas não o fazem por medo de um envolvimento que, inevitavelmente, trará muito trabalho e, quem sabe, por vezes, consequências desagradáveis.
É, realmente, um assunto para pensarmos com mais seriedade. Abraço!!!
Caro Leandro,
ResponderExcluirObrigada por seu comentário. Muitas igrejas talvez não façam nenhum trabalho neste sentido porque custa caro, e as prioridades nem sempre são essas. Investimos muito dinheiro em coisas que vão passar, não é? Não investimos nosso tempo e nosso dinheiro nas coisas do Reino, que são eternas.
Um abraço,
Concordo em grande parte com as idéias expressas nese texto, mas preocupo-me com a parte que cita o acolhimento de crianças e adolescentes numa ala de um certa igreja,afirmando que ela(e)s eram da Igreja e não estariam disponíveis para adoção. Ora, segundo o ECA, qualquer acolhimento tem que ser excepcional e provisório e, não tendo havido a reintegração familiar, num prazo máximo de dois anos, ela(e)s irão para a adoção. A única maneira de poderem voltar a serem chamado(a)s de filho(a)s.
ResponderExcluirOlá Lenilde!
ResponderExcluirO exemplo que citei é em outro país. As crianças foram adotadas pela pastora da igreja e seu marido. Eles eram, legalmente, os pais daquelas crianças. O mais interessante do projeto, na minha opinião, foi a disposição da Igreja em Santo Domingo, República Dominicana, em abraçar a causa de cuidar daquelas crianças integralmente.
Obrigada por seu comentário! Um abraço!
Maya
Parabéns pelo texto, Maya!
ResponderExcluirSeus escritos estão contribuindo bastante com este espaço da UBE.
Abraço!
Caro Valmir,
ResponderExcluirObrigada! Muito bom ler seu comentário, que me incentiva a melhorar!
Maya
Mayalu,
ResponderExcluirParabéns pela firmeza em defender a valorização da vida!
Luzes são tuas palavras nesse campo da discussão sobre o crime hediondo que é o aborto.
Destaco a seguinte citação que serve de profunda reflexão sobre a missão que uma comunidade tem a desempenhar neste mundo marcado pela violência: “Muitas igrejas preocupam-se em colocar piso de mármore e bancos de luxo em seus magníficos templos, enquanto poderiam investir recursos em crianças órfãs e honrar muito mais, desta forma, a Palavra de Deus, alegrando verdadeiramente o coração do Pai.”
Realmente, a proteção a crianças órfãs passa longe dos planos das igrejas, de um modo geral, infelizmente.
Para aderir à adoção faz-se necessária uma abertura da alma para entender o plano de Deus em nossas vidas, nas vidas das famílias cristãs. No entanto, na prática nós temos medos e isso expressa nossa fraca disposição de fé em crer que Deus age quando alguém se dispõe a resgatar vidas pela adoção.
Paulo Sabá
Muito bom Maya.
ResponderExcluirEU SOU TOTALMENTE CONTRA O ABORTO.
ResponderExcluirAmei a postagem, infelizmente vivemos um cristianismo hipocrita. Fico feliz em saber que existem cristãos que se posicionam diante disto. Estou na fila da adoção, ja tenho um filho biologico e senti a vontade de aumentar minha familia. O amor de Deus é lindo ja amo muito um filho que nem conheço.
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