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Duas
palavras interessantes: livre e liberto. Ambas remontam a um mesmo
radical latino, líber, mas cada uma
assumiu um sentido diferente, donde se depreende que o fato de alguém estar na
condição de liberto não o põe, necessariamente, na condição de livre. Trata-se,
pois, de nuances semânticas bem ligadas a um pensamento filosófico.
A
forma livre, tanto quanto a forma liberto são - a priori - particípios irregulares
dos respectivos verbos livrar e libertar, normalmente empregadas como
adjetivo. Assim, diremos homem livre/homem liberto. Na condição de
particípios verbais, obedecem à norma do emprego dos particípios nas conjugações
perifrásticas ou compostas. Assim, tendo-se como auxiliares os verbos ter ou haver, serão empregados os particípios regulares: Ele tinha livrado/libertado. Com os
auxiliares ser, estar ou ficar,
emprega-se, em geral, o particípio irregular: Ele deve ser, estar ou ficar livre/liberto. Porém, não se tome essa última orientação como definitiva,
considerando-se os aspectos semânticos envolvidos.
Voltando
à questão inicial, vale a pena entrar no mérito semântico de alguém ser livre e ser liberto. Que é ser livre? Os melhores dicionários informam que
se trata da situação em que alguém não traz sobre si nenhum jugo; trata-se de
quem seja senhor de si mesmo, para decidir, realizar atos, e assumir total
responsabilidade pelo que faz. Entenda-se, portanto, que o homem socialmente
relacionado é livre, em tese, uma vez que todos estão sob o jugo da legislação
de sua sociedade.
No
aspecto da organização social, ou política, o homem livre será aquele que em
tempo algum - ele mesmo, ou seus descendentes - foi escravo, isto é, jamais
esteve à disposição ou sob imposições de outro homem. Nas civilizações antigas,
Egito, Grécia e Roma, por exemplo, havia cidadãos livres (os senhores) e os
escravos.
A
civilização hebreia foi tornada escrava no Egito, até que Deus lhe providenciou
a liberdade, por intermédio de Moisés. Algumas leis romanas também promoveram
liberdade a escravos e, não longe de nós, a Princesa Isabel, de Portugal,
assinou a discutível Lei Áurea, em favor dos escravos africanos, no Brasil.
Ora,
de acordo com esse ponto de vista, os homens que viveram sob a escravidão não
se tornaram homens livres; mas libertos. Assim, pode-se estabelecer a diferença
conceitual entre ser livre e ser liberto. O livre nunca precisou de libertação.
Que
é ser liberto? Entende-se por liberto aquele a quem se concedeu a liberdade, ou
seja, aquele que, por meio da libertação, saiu da situação de escravo. O
escravo não se liberta a si mesmo; pode, no máximo, rebelar-se contra a sua
escravidão, mas não se livra dela.
O
ser humano, no princípio, quando Deus o criou, recebeu do Pai a condição de ser
livre. “E ordenou o Senhor Deus ao homem,
dizendo: De toda árvore do jardim comerás livremente,...” (Gn 2.16 -
grifo meu). A desobediência de Adão, por ter dado ouvidos a quem o queria
escravizar, tornou-o servo, escravo do mal, sujeito à atuação da morte
espiritual e física (Gn 2.17). A humanidade permanece escravizada pelo pecado.
Os homens são carentes de libertação. “Porque
todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.23).
A
carência de liberdade humana só pode ser satisfeita pelo unigênito Filho de
Deus, Jesus Cristo, o Senhor. Ele declarou: “Vinde a mim todos os que
estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei” (Mt 11.28). Disse ainda: “...
e conhecereis a verdade, e a verdade vos
libertará” (Jo 8.32).
Bem,
uma vez que toda a humanidade se tornou escrava do pecado, por causa da
desobediência de Adão, Deus lhe apresentou um plano de liberdade: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que
deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas
tenha a vida eterna” (Jo 3.16).
Nós,
os que já aceitamos essa tão grandiosa dádiva de Deus, tornamo-nos libertados por
sua graça. Nossa libertação não nos tornou livres, no sentido de nada dever a
ninguém: quem foi libertado lembra-se de que fora escravo e deve a liberdade a
quem o libertou! “Mas, graças a Deus que,
tendo sido servos do pecado, obedecestes de coração à forma de doutrina a que
fostes entregues. E, libertados do pecado, fostes feitos servos da justiça”
(Rm 6.17).
Somos
libertos, mas não livres, no sentido de independência que a palavra pode
sugerir, porque agora servimos àquele que nos libertou. Somos livres em Cristo
e para Cristo, que nos libertou!
“Se, pois, o Filho vos libertar,
verdadeiramente sereis livres” (Jo 8.36).
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