Por Lucilene Batista de Brito Shirota
25-12-2011; 00:01 a.m.
- Oh...Está vivo! É um menino!
Ouve-se o choro do recém nascido e todos na sala de cirurgia choram e aplaudem. Mas a pressão da mãe está despencando:
- Pediatra! Onde tem uma pediatra?
- Não temos doutora.
- Meu Deus! Pegue a criança! Enfermeiras!? Examinem o menino para ver se ele está bem e o aqueçam. Preciso fazer alguma coisa porque senão esta mulher vai morrer.
A pressão caía e a homorragia era constante. Com muito cuidado e destreza, a doutora Flora consegue achar o local da homorragia e fechá-lo, mas a mulher ainda correr risco de morrer.
- Levem para a UTI e cuidem para ela não ter nenhuma infecção.
Doutora Flora olha ao redor e não acredita que está em um dos países mais miseráveis e corruptos do mundo, a Somália. Dias antes estava no Brasil trabalhando em um renomado hospital e dando aulas de medicina na USP. Sua área de atuação nem é obstetrícia, mas sim Oncologia, mas naquele momento ela teve que colocar seus conhecimentos teóricos em prática, ou aquela mulher e seu bebê morreriam.
Mas como aquela mulher vencedora de prêmios médicos, que já havia viajado meio mundo e com nome reconhecido foi parar naquele país nada glamuroso? Pelo contrário, desde que chegou não conseguiu descansar, foi direto para o principal hospital da capital Mogadíscio e lá ela recebeu a indicação de ir em uma região não muito longe dali, para tratar de pacientes com Câncer, mas quando chegou no lugar percebeu que era um hospital de campanha que já havia se tornado permanente, por falta de dinheiro público para se construir um hospital digno para aquelas pessoas.
- Aqui doutora, a coisa é feia! Temos que cuidar das pessoas praticamente sem remédios ou camas ou recurso algum. - Disse o diretor do hospital ´´provisório``.
- Bom, vamos aos doentes. Quantas pessoas com Câncer vocês diagnosticaram aqui?
- Como? Ixi! Não sabemos doutora... mas a senhora não veio para ajudar os Médicos Sem Fronteiras?
- Sim, porque?
- É que eles nos disseram antes de sair para uma aldeia a mais de 400 km daqui, de que a senhora nos ajudaria com todos os pacientes.
- Todos? Mas sou Oncologista não Clínica Geral!
- Mas doutora...
Nesse momento aparece um homem chamando e se ouve os gritos de sua mulher. Grávida de 9 meses, está tendo uma hemorragia e o bebê não consegue nascer.
- Pergunte a ele a quanto tempo ela está em trabalho de parto?
- Ele disse que desde ontem a tarde.
- O quê? Mas já são mais de 11 horas da noite! Faz quanto tempo que começou a hemorragia?
- Ele disse que agora a pouco.
- Então vamos levá-la para a sala de cirurgia, ela não pode mais esperar!
- Mas o que você vai fazer?
- Vou fazer uma cesária de urgência. Rápido doutor, prepare tudo o mais depressa possível!
A sala de cirurgia parecia tudo, menos uma sala de cirurgia. Com uma visão rápida ela viu ratos, lixo, poeira e insetos. Foi nesta hora que ela, em poucos segundos orou:
- Senhor, vim para esse lugar a convite de uma grande amiga. Vim para conhecer e ajudar mas sabes que neste momento a coisa que mais queria era ter negado esse convite. Mas estou aqui! Agora Jesus, me ajude a salvar a vida dessa mulher e seu bebê. Estamos nas suas mãos. Amém!
Quando o médico-chefe voltou, ela então começou a operação. Ela tinha apenas o anestesista, o médico-chefe que nada fazia a não ser questionar cada manobra da doutora e duas enfermeiras. Quando o bebê nasceu e chorou, foi o único momento de paz que ela vivenciou em tão pouco tempo naquele país.
Ao sair da sala de cirurgia, com a mãe estável na UTI provisória, ela foi ver o bebê em outra sala, onde as enfermeiras já o haviam limpado, colocado uma roupa quentinha e ele dormia respirando bem.
- É um meninão! - Disse a enfermeira chefe, uma inglesa a anos no país e que chegara de uma consulta em um vilarejo vizinho.
- É... é verdade, um lindo menino.
- Parabéns, doutora! Quem se arriscaria a fazer um parto difícil desses num país como esse, tendo acabado de chegar, cansada, com fome e pior, nem é para isso que a senhora veio aqui! Veio para ver pacientes com Câncer. Mas seu primeiro paciente foi um menino que acaba de chegar ao mundo e graças a Deus, com saúde.
- Nossa, verdade!
- Mas o mais incrível doutora é que a senhora veio justamente na véspera de Natal e pôs o bebê no mundo exatamente no primeiro minuto do dia 25 de Dezembro!
- É... eu não tinha nem lembrado que era Natal. Sabe, sou cristã evangélica, e apesar de toda a simbologia do Natal, ele não passa de uma simbologia, não sabem ao certo o dia do nascimento de Cristo e definitivamente não acredito em Papai Noel!
- Ha ha ha ha ha... Concordo! Sou também uma cristã evangélica como você mas penso que mesmo não sabendo a data certa de seu nascimento, sabemos que ele um dia nasceu, viveu neste mundo e morreu para nos dar vida e com abundância. Hoje Deus deu a você a paz que a muito tempo havia perdido. Sei que é estranho dizer isso, num lugar como esse com tanta tristeza ao redor, mas Cristo hoje te dá uma perspectiva nova da sua vida e que ele a capacitou para ajudar outras pessoas a encontrar a vida não somente física mas eterna.
- Olha, você tem razão. Quando o bebê nasceu senti realmente uma paz tão grande que consegui terminar a operação com calma. É, orei pedindo a Deus que me ajudasse e ele me deu mais que isso, me deu paz.
- Então, doutora, feliz Natal e vamos agradecer e parabenizar o nosso Jesus! Mesmo sendo um país muçulmano, eles respeitam e nos deixam fazer uma ceia de Natal. Venha, vamos compartilhar Cristo com todos!
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